Wednesday, February 28, 2007

Olvidar

Abro-te as portas do inferno
Na letra dum devaneio...

Impregnado na escravatura
Ignoro os gemidos.
Somente devoro tua Alma.

Pinto o caixão num medalhão
A fervilhar o sangue do veneno
Irradiado na escuridão...

Rasgo o nevoeiro do licor
Onde o ostracismo mergulha...
Vês a face do vazio;
Não sentes nenhuma metamorfose,
Nem profundidade, nem fuga...

Encontro-me dilacerado
A olvidar a navalha.
Ela não perguntará por ti...

Tuesday, February 27, 2007

Amor de Filho

Atrevi-me a suplantar a miragem do sol poente no rasto do corredor das brasas, abandonando à sombra a fechadura de labirintos. Toquei os passos nessa ilusão a apavorar a lenha, saltando muros de vitrais para encontrar a melancolia dos salpicos na mão. O Amor de filho cria esses parâmetros que aliciam novas tentativas até que tudo volta à estaca negativa por muito o atrevimento seja regado. A perspectiva longínqua dum sonho...

Sunday, February 25, 2007

Verter

Accionam os dias em cada semáforo.
Cantam... Pisgam...
Alternam as faces nos olhos do corredor
Como se a pluviosidade vertesse do canto da sereia.
E verte...

Saturday, February 24, 2007

Chapinhar

Trago o olhar de mim
Enrolado na beira das falésias.

Paletes de ciclones
Alertam a intuição:
A muralha enfeita a cortina
Junto ao bosque
Onde os predadores aglomerados
Ouvem a ausência da letra...

A noite nasceu dentro da madrugada;
Estremecida força,
Túnel profundo.
A lamparina esqueceu o mergulho;
Perco a vista,
Ganho a voz...

Chapinhar na escuridão...
A sobrevivência...

Friday, February 23, 2007

Contido Estrondo

Tudo se recolhe e acolhe...
Calor frio em gelo quente
Vazio despido vestido consentido
Sentimento contido

Imensidão transparente
Ausente sensação
Transbordar num reflexo
Aperto sufocante que chove na palma da mão

Gemido ouvido corrido
Corpo perfumado esfumado
Caixa de musica
Melodia unica...

Duende



















Sinto falta das pétalas a caírem em simultâneo.

Wednesday, February 21, 2007

Troncos de Fogo

Campas de marionetas
Inflamam os troncos espalhados;
Mascarados pelos fogos desesperados
Ouço a dor dos cometas.

Da serpentina cravada
Sobra o coração prisioneiro;
Atarracar o pé à calçada
O corrimão sai pioneiro.

A luz da noite nasce na sombra...


Friday, February 16, 2007

Teias de Saudade

O transparente lago molha o cabelo
Saudade...Mistura...Licor...

A esperança das estrelas
Nas camadas das teias,
Cai a lágrima...

Arranho a sombra das fragas
A deixar os relâmpagos arderem
No ventre das folhas secas...

O percurso das vibrações
Estica o robusto olhar...
Sobe o tom, bate o coração...

O medo treme,
Impotente, estrela cadente...
“Ninguém está aí...”... Aqui...



....
I am the mistress of loneliness,
my court is deserted but I do not care.
The presence of people is ugly and cold
and something I can neither watch nor bear.


So, I prefer to lie in darkness silence alone,
listening to the lack of light, or sound,
or someone to talk to, for something to share ...-
but there is no hope and no-one is there.



Sopor Aerternus - No-One is there
(Música em baixo)




Último olhar pousado nas mãos...

Thursday, February 15, 2007

Vitrais Coloridos

As manhãs sopram a viajar pelo destino
A rabiscar nas chaves dos céus
Contornos que os sonhos pintam...

As nuvens pingam pés floreados;
Uma onda de saltos distantes...
Um caminho entrelaçado nos jardins...
Uma viagem pela beira do carrinho...

Cada ano transpira os vitrais
Numa cidade de transparências.
O momento é feito para brilhar
Para tocar notas de pétalas.
O segmento perfeito da profundidade colorida...


Um feliz dia de anos prima:)


Tuesday, February 13, 2007

Matraquilhos

As mãos doces tocam páginas abertas durante a guerra civil espanhola. Sons de silêncio pingam nas portas do hospital, onde na mistura de batalhas humanas o corpo repousa. A explosão tinha feito estrago na ossada mas o sonho existe sempre, nem que seja para fazer com que o esboço dum sorriso se espalhe na Alma do ser humano. Criar corpos feitos de madeira, enlaçados, fazem uma formação de estátuas vivas terem troncos de sangue, e que as mãos dão reviravoltas pondo os pés onde a cabeça está, a viagem pelos odores da exaltação. Gira em torno da imaginação, rodopia nos lábios da satisfação, a segurar singelos desejos de fintas loucas. Ouve-se o espalhar de feitiços nos momentos da essência.






Alejandro Finisterre faleceu no dia 9 de Fevereiro. Não sei se foi num dia de chuva miudinha
(Os verdes e brancos ganhavam quase sempre, e quando não venciam o sorriso dos lábios era maior.)

Monday, February 12, 2007

Perfume

Hoje é 12 de Fevereiro de 2006.

De madrugada caíram pingos de chuva fresca onde molharam o meu corpo despido. Os dedos de fraqueza rasgaram a pele deixando seu odor perfumar as veias desejosas de poderem serem orvalhadas. O canto perfurou o que é o sismo fez tremer...
Lacrimosa - Der Morgen Danach

Sunday, February 11, 2007

Riso do Rio

Vento graceja no cabelo
Num rasto das notas pingadas

Um som silencioso de relâmpagos;
Uma serenidade de prisioneiros libertos;
Um violento sopro para solidificar geadas;

Sinal da ausência pendurado nos soluços…

Rio do riso pergunta pela onda…
Riso do rio pergunta pela dona…


Friday, February 09, 2007

Alçapão Latente

Pés Erguidos
Ardente
Poente
Latente

Mãos Esculpidas
Sótão
Escuridão
Alçapão

As correntes escapam ao esquecimento; mãos ou pés têm sempre um dom de enriquecer o espírito. Ouvir o som da ave a sobrevoar outros mares, os toques do silêncio a chilrear as harmonias em momentos únicos, são banhos húmidos de prazer. Livres voam os anjos por não saberem tocar... Porventura não valerá a questão?...

Wednesday, February 07, 2007

7Unhas Negras7


Quando se sente o corpo a gelar

A Alma entra em combustão

Agreste sem cessar no meio dos trovões

À espera de ir num sopro do vento árido

De ir num olhar

De correr nas luzes espalhadas

Longe...


Abre-se por dentro os cabos esticados

Uns atrás dos outros

A tentar falar por entre linhas esquecidas


...Fogo de água cai no esboço...

...Uma tela...

...Unhas pintadas de negro...

Monday, February 05, 2007

Eutanásia

Pensei e repensei no assunto para chegar que a conclusão que porventura poderia chegar iria ser demasiada confusa dando cabo da minha mente. Esticaria minhas células até ao limiar da insatisfação, nunca mais poderia sentir o eco do alimento a retalhar o escondido som, esmagando os restos da minha insanidade. Estas linhas não me estão a ajudar nada e fico somente com uma certeza suspenso no elemento retido da Alma. “Who am my to disagree?” Abuse me...Crio a semente rasgada do olhar, não pergunto a cor do inferno nem em que ponto a brasa começou a existir e se no meu coração correm veias feitas de pó. Sim ou Não...A resposta está toda na pergunta não formulada, onde só ocorre a questão fundamental: legalizem que o feto tenha a oportunidade de poder praticar a eutanásia. Aí poderei votar com consciência tranquila porque o meu voto seria inútil.


P.S: O texto não é para ser levado a sério.

Sunday, February 04, 2007

Brutal Cal

Capítulo brutal.
Inacabado ao suspiro.

Por dentro do silêncio
A massacrar os lábios da nudez
Desfilo nos húmidos pedaços.
Num rasgo do desfiladeiro
Ofusco o som cercado…

Na cela da solidão
Ergo a invisibilidade
Da transparência de fogo
Até ao portão de grades vendadas…

Subo nos pés da geada
A gemer de prazer…
Estremeço com espinhos cravados.
Do mal fatal dou uma foda aos sentidos…

Escorrego no meu cabelo estendido na mão
Onde cresço ao sabor da Bruma.

Friday, February 02, 2007

Cristalizar o Voo

Um ano de Luas
Onde a sensação mergulha
Embrulhada nos feitiços...

Restolho permanece nas geadas
Dobrado em silhuetas
Para criar ventanias vazias

Mão enrola a Alma
Inconsciente pé
O Paciente desassossego

Coração de bolhas
Acarinha a montanha...
A neve, a fantasia...
Escamas de folhas
Rasgam o que a mão amanha...
Leve, a magia...

Asas do Dragão...
Cristalizo o Demónio...
Voar...

Orgulho III

Não há tempo...Parabéns ao tempo!

Os caracóis enrolados saltam na pele dos segundos, árduos e secos a contemplar o horizonte. Dum fresco toque descai a manhã nas lagoas da metamorfose, um sopro, uma miragem de sentimentos, uma viagem contida. Percorro o altar do sentimento na criança do canto melódico, a encontrar as beiras do vento ao som do luar. Saem fogos pelos longos cabelos, começo a devorar as faíscas das translações das campas, um estrondo monumental de trovões rabiscam a porcelana partida. Roer texturas dos pedaços de sangue da moldura; caio no esboço do meu rosto a revirar páginas antigas, a morder apontamentos de notas. De longe para perto a magia entra em mim, contemplando um lugar, só. A noite pingada por uma gota onde o coração explode no medo reflectido, sobrevivo a rasgar escavações percorridas pelas ruas da memória. Uma beleza de profundezas a tocar a embriaguez do paladar, o veneno da corrente que perfuma a minha pele, navegando num ruído estreito. A Lua aninha-se nas fissuras da minha carne, atiro a liberdade da lareira e espreito a palma da mão...

Não há tempo. Parabéns ao tempo!