Tuesday, October 30, 2007

Terça

Noite de Terça,

Rego o começo da escuridão com o soltar dos cabelos. Estendo-os pelas costas a destroçar a marginal memória de quase me ter esquecido de como gosto deambular por estas ruas. Arregaçar o gemido das varandas encostadas às sombras. O tilintar escorre nos olhos das bebidas. Mecanismos mecanizados que carburam num frenesim áspero da vontade. Roçar de letras, desgaste embriagado de licores.
O silêncio do vento compõe o corpo e a Alma numa mistura. Silhuetas diluídas num chamamento infernal. Povoo o estalar das folhas.

Sunday, October 28, 2007

Domingo

Manhã de domingo,

Mais uma hora, menos uma hora...Rolar os dados, rolar a vida...
Silêncio das ruas toca as janelas fechadas aos raios do sol. Alguns caminhantes dormem num sonolento vadiar, outros ouvem cânticos eclesiásticos.
Chego junto duma mercearia, onde as frutas me invadem as narinas. A mistura contagiante de odores profundos, lembra os pomares onde passeava. Não com tanto poder de escolha, mas com a mesma intensidade envolvida. Penetro o local e vou escoando cada fruta para o saco de plástico. Saboroso néctar, maduro desfiar de prazeres.
Saio da mercearia, e contorno as vielas desertas. Dedilho os diferentes paladares antes que venha o infernal marchar dos pés ruidosos.
Dar ou retirar uma hora...

Thursday, October 25, 2007

Moon Dance

Dispo-te até gemer dentro de ti...
Enrolo-me na silhueta do odor...

Entras pelas folhas a suspirar;
Penetras rasgos da existência feitos de mistérios.

O sossego das estrelas enlaça-se no brilho prateado;
Amor cantado.
Notas de viagens perfuradas pelo tempo aprisionado.

Nu,
Minha Alma sente
Saudade de voar até ao calor das chamas que envolves.

Descair no núcleo do magma.
Alcançar teus elos...Vou até ti, Lua...


Sunday, October 21, 2007

Números

“As pessoas grandes adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca:”Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que colecciona borboletas?” Mas perguntam:”Qual é a sua idade? Quantos irmãos tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?” Somente então é que elas julgam conhecê-lo.”
Antoine Saint-Exupéry – O Principezinho.


Friday, October 19, 2007

Asas

O círculo das asas, um horizonte, uma orientação segundo um portal gigante. Negro vestido...Violeta despido. Regado à tradição de voos, ao ritual da inspiração.
Desobstruir a reabilitação das fechaduras num sopro desgovernado. Arrancar obstáculos estrondosos do silêncio para levantar mórbidas asas. Existe fragrância na pele do tempo. Sulco que incendeia o estalar das folhas de madeira.

Tuesday, October 16, 2007

Cruz

Gigantes estão na metamorfose da fluidez. Olhos que olham o sangue, escorre na face, uma ternura rasgada a provar a doce loucura da dor. Seguem onde o fundo alcança o devaneio das profundezas. Um beijo eloquente a regar a tempestade despida. A cruz corta a pele, entrando nas veias até que o som se desperdice no vento. Abanar a eternidade com a palma das mãos, com a face do inalcançável.
Os galhos são infiéis quando as folhas não descarrilam nos galhos.

Friday, October 12, 2007

Falésias

A orla dançante cobre as trevas
na borda das falésias.
Aroma esvoaçante...

Wednesday, October 10, 2007

A Orquestra

A interacção das pessoas confinadas ao espaço terrestre põe do mesmo lado certas teorias físicas:

  • A partir do momento que pelo menos dois seres interagem o sistema não volta a ser o mesmo. O nosso sistema, a nossa sociedade, a nossa orquestra, e todos os seus contextos e intervenientes está em constante mutação.
  • Quanto emitimos apenas um fotão por uma montagem de dupla fenda, ou ele passa ou não passa. Funciona o campo da probabilidade...
  • Os múltiplos universos paralelos vão até onde a imaginação alcançar seu clímax.

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Monday, October 08, 2007

Galhos

Vestem-se segundo o sabor dos gestos
Os Galhos;
Labirinto de encruzilhadas, de portas.
As ventanias secretas misturam
Os Galhos;
Gemidos de carícias estalam os rios
Os Galhos;
Mistérios das nuvens, rosto entristecido,
Os Galhos;
Arrepiam cambalhotas de desejos
A desfrutar a leveza das guilhotinas...
Cortes do cru aberto, nus,
Os Galhos;
Recordar a lembrança, a loucura de trepar,
O chuvisco ao orvalhar
Sinfonias de trevas adormecidas,
Os Galhos;
Deter um movimento puro
A sepultar a terra ferida.
Os Galhos;
Anel de pétalas a cantarolar a suavidade
Os Galhos.

O frenesim arrebenta ao despido olhar.

Sunday, October 07, 2007

Enigma

A bala entra dentro da pele, ardente a pautar seus rasgos. Cada um toma conta do seu ninho em lutas ferozes para olvidar as asas trituradoras. Nem mesmo a auscultar o silêncio sobra tempo para a memória; toque ao som do desaguar do rio no mar. Gritos estrondosos mutilam as margens, descanso mutilado ao ciclone do sossego.
Permanecem metáforas, permanece o sentido vago.

Sete voos, sete novas…
Números nus…

Treze paus, trezes estacas…
Véus separados…

Vinte três sentidos, vinte três desconhecidos…
Chuvas torrenciais…

Incógnita, enigma...
Caveira ou mineira…
Obscuro, coberto…

Archote refugiado…
Sentir o nevoeiro…

Somar

Saturday, October 06, 2007

Rugby



A França esmagou, triturou, dilacerou a Nova Zelândia.
Lindo!
20-18
Post desconexo com o tema do blog ou talvez não.
LOL

Sino

Sino pinga...
Tom ao som do tom...
Pinga!

A cor do badalar...
Sufocar...
O ar...

Ardor ou Amor!

Sem cura a dor não dura;
Ou pura ou plena verdura...

Fixar o crucifixo
Dentro da Alma,
O pingo!

Condensado gelo...
Aroma fresco...
Espelho de água...
Gestos...
Poças de salpicos...
Carroça a deambular,
Andar, marinhar...

Voar...

Thursday, October 04, 2007

A Face

O Punhal derrama-se brutalmente sobre o corpo. Verte o sangue da pele ao sequestrar o desfolhado pólen. A chama do inferno, o gelo do céu. Derreter as vagas do tormento.
O fundo ecoa dentro de mim.
Quem pergunta?
Quem sugere pintar feras na face?
Qual animal se levanta numa luta contra a vontade?
Qual o lugar?
Para além da germinação empolga-se o saltitar das sementes. Punhal encravado...Suculento sabor!

Tuesday, October 02, 2007

Lago Penetrante

Assombrado pelo lago, o rasgo penetrante chega perto da escuridão, repousar no suspiro, calor. Deambula sobre a pele num gesto que faz gemer o coração. O debruçar ecoa na vastidão das árvores, intervalo onde pinga o desejo. Ouvir as cortinas estendidas na mão com o licor a verter subterrâneos, destroços de relíquias. Dedos fogem entre dedos, fixa a troca do ardor liberto.
Folhas fazem o manto do Outono...