Wednesday, April 28, 2010

Jardim Botânico do Porto

Há cantos onde as cores perfumam as vistas, basta ir de encontro a eles, explorar as profundezas do tempo vagaroso e sabe-se que a Alma é recolhida no sopro da natureza. Existem múltiplos lugares na cidade do Porto para que isso aconteça, o Jardim botânico é um deles. Nesta altura espalha cores nos soluços das suas envolvências, as flores gemem de fragrâncias, os seios das pétalas pingam os tecidos feitos da nudez dos anéis. Mantos de folhas verdes enroscam-se aos galhos, com os cabelos a deslizarem nos dedos de fogo dos raios solares. Entra-se nas pedras de vulcões quando os gatos rebolam na suavidade das sombras a procurar o chorar das águas ou o movimento inquieto dos pássaros. Tudo se harmoniza na vastidão dos pequenos labirintos, dos lagos germinados no além, dos cactos de pele infernal, das estufas que procriam a semente da insanidade, colher a pétala de esboços. Existe pedaços que deflagram em espinhos flutuantes nos nenúfares, rejubilam botões de cataratas nos filamentos das fugas impossíveis. Esferas a badalar assombrações na gruta mágica da cidade.

Thursday, April 22, 2010

Linhares I

O vestido estava coberto de galhos, gotas feitas de estrelas que agasalhavam os rostos do passado. Tudo moldado com a cobertura da Primavera a tecer a teia dos espaços estendidos, silhuetas enlaçadas.
A natureza mantém-se intacta, com as nervuras nas cascas dos caminhos. A mobilidade do vento faz os movimentos sensuais transbordar de prazer ao toque subterrâneo. Pé atrás de pé no dorso da terra ardente, de chuva coberta.
Quando os riachos eram elaborados com o orvalho da manhã o tempo passava devagar ao som dos grilos nas árduas tarefas dos chapéus. A lenha estalava debaixo dos pés pelo trilho aberto nos montes, fogo vagaroso que o manto clama. As pedras dispostas nas paredes aninham-se umas às outras ouvindo o piar dos pássaros, leito das giestas, ardor. Tudo se funde na harmonia, no despertar dos aromas misturados. O som da água a escorrer, compasso da tranquilidade a gemer o seu encanto. Destilar arvore despidas, dedilhar as ervas verdes, a brisa soletra notas que as aves acolhem na sua melodia única. A terra molhada ferve de pujança a adornar os raios de sol, envolvendo os carrascos, a cobertura das sombra a pintar o tempo. O estado selvagem da natureza brota com energia abrindo poços aos poços, deixando transparecer a sua fecundidade, como no passado, somente a ausência dos Seres, dos avós, presentes no carinho dos céus.


Thursday, April 15, 2010

Mulheres

Há tantas mulheres nestas ruas despidas que o caos veste a miragem das folhas. Gosto dos galhos a serpentear a nudez dos corpos femininos, o vento a entrelaçar danças que os olhos rebolam. Os dedos são desconhecidos nos mapas das imagens, mandamentos da sensualidade a perfumar as ruelas do destino. A coroa das velas são as veias dos seios, fé interna da mulher a esculpir enigmas incompreendidos pelo racional. Se no fluxo a parte entranhada das alucinações geme, o gesto testemunha o tecido rendilhado da delicadeza. Perfis de rostos a moldar cabelos, virgens toques dos lábios nublados de vontades. Voam beijos ao vento, ao palpitar de dourados, prateados ou bronzeados instintos. Despe-se o calçar das pernas no orvalho das madrugadas.