Saturday, October 23, 2010

Terço

Enquanto a paisagem se desdobra é possível observar o passageiro diurno da folha solta. O pormenor é o seu ponto de fuga, marca atingível pela metamorfose num corrupio de depressões. Afunda-se o que é envolvida pela crença, limiar da fronteira para o redor desabar no dedo afiado que rasga o passado de forma imperdoável. Não há freiras para suster este apocalipse, só o ciclo esboçado no ar pelo terço o consegue fazer saciar o desespero interior que reina no Ser. Existe sempre o resguardo na solidão para aninhar a tenda de silêncios, um caos urbano da fé e da desordem. As duas juntas salpicam o poço até chegar ao momento do adeus em fúria.

Sunday, October 17, 2010

Mensageiro do Inferno

Inadvertidamente enlacei o sufoco da respiração na escuridão completa da gruta. Não tenho para onde olhar, nem a sombra me faz companhia, nem a companhia constante do zumbido nocturno salta para dentro das minhas veias. O pesadelo ecoa como um estrondo; não tenho para onde fugir; ninguém me pode libertar desta prisão. A terra faz de mim seu escravo, tenho-a dentro do Ser a germinar as sementes da esperança. Fujo sem puder fugir por entre os corredores da minha mente, disponho as palavras dos livros num sossego despertar. Tudo se alimenta dum caixão amaldiçoado, onde os olhos se devoram, se rebentam até à exaustão. Posso sentir a explosão fragmentada da luz no labirinto das mãos, forças que se fundem e arrancam o sustento do licor, que preenchem as raízes.
O topo do inferno aglomera-se mas o ruído ecoa, a esperança expande-se a cada momento em cordas invisíveis de expectativa à procura do último resguardo da sobrevivência. O deserto tem poços desconhecidos perante as miragens das ossadas. Sufocar ou Amar…
Mineiros que estiveram soterrados durante 69 dias debaixo do solo do Atacama - Chile

Sunday, October 10, 2010

Templos Modernos

Os relâmpagos abrem a clareira dos cegos. Todos temos alturas em que a visão da Alma fica nítida e a contemplação da mistura torna-se um exercício de pureza. Pode-se elaborar as tarefas segundo fogueiras, abrigados do fogo segundo o fluxo da corrente do rio. Sentir a suavidade dos momentos, nos simples devaneios da insanidade.
Quando se estremece no ninho os labirintos escalam a pele dos corpos, sossegando a solidão. Este estado aglomerado por partituras ganha sua forma nos tortuosos recantos da imaginação. O Ser completa-se por etapas indefinidas, regado por soluços de varetas improvisadas. Enquanto que a respiração galopar o eterno será a chama dos relâmpagos, viagens ao som do rugido das alucinações.
Nunca se pode menosprezar o renascimento, porque ela é sempre feita de vontade, chama da qual se tem o sentido do Ser dedilhado no percurso. A vontade e a energia são irmãs gémeas, andam juntas, por isso quem tem vontade tem a energia para misturar Seres...