Tuesday, November 30, 2010

Licor Mágico

No Universo do Outono existe o odor único que se implanta dentro do Ser e o absorve em tempestades incomparáveis. O fluxo a vaguear, sublime respirar; sustentação das raízes nas veias, o sentido insaciável de permanecer. Cada repousar, cada movimento, cada olhar; a contemplação do fogo a espalhar-se em recortados segmentos de folhas. Sente-se o brotar da terra, da humidade perturbada, dos galhos a ficarem nus, uma mistura que preenche o Ser até à exaustão. E de vez em quando o assobio dos pássaros recoloca a virtude no devido lugar.
Talvez um dia consiga uma foto dalgum pássaro junto dum cogumelo, a pintar a magia dum licor enfeitiçado, num estado delicado.

Monday, November 15, 2010

Nirvana

O tempo pergunta ao vento sobre o seu inquieto sussurro. Não se pode dizer que seja um murmúrio audível, um rodopio enlaçado na profundeza dum sotaque, mas um qualquer olhar perturbaria o equilíbrio fúnebre, por isso a dança é feita de forma inquieta. Esconder os mais íntimos pormenores é um estado incalculável. Talvez a prisão dos sentidos seja a libertação, um reino do qual os fogos se incendeiam sem perguntar o seu molde de saciar. Se a lima resgata a rudeza, a suavidade alcança a metamorfose, o Ser desaba fundindo a proximidade num fio invisível. Cor tricotada da evolução fica submersa, longe do apocalipse, longe da própria reconstrução.
Quando as folhas encaixam carruagens de cor, a sua pauta desfila a função do chamamento. Ecoar o toque cego da torre é insanidade, subir nela é embriaguez, entrar nela é êxtase. E se for de lá que se pode entranhar o reino então o silêncio é o piar dos banquetes, o altar primeiro do sentido. A explosão é o carvão dos vales, inferno silencioso do labirinto das árvores, terra nas chamas do Outono. O sabor faz parte da memória, resguardado ou apenas entranhado. Não se sabe o âmago dos feitiços que o sussurro provoca, mas o que isso importa?
Palácio de Cristal - Porto