Saturday, October 31, 2009

Carpinteiro

Quando o carpinteiro da água benta soletra as folhas no buraco do tempo rasgado, existem masmorras a descair na Alma dos ausentes. A madeira está misturada nos filamentos do corpo, ranger das badaladas tritura o espaço das veias pintadas. Sente-se a vertigem dos ponteiros laminar o entrelaçar do voo das portas, abertura do qual a respiração escuta a cadência da sensualidade. Murmúrios infiltrados nas telhas decorram o momento das gotas aflitas, aquele fluxo embalsamado.

Monday, October 26, 2009

Dead Train

A locomotiva dos mortos é cega no seu trilho. Cada galope serpenteia o desconhecido, além da imaginação do esboço encapuçado. Não há fuga possível dentro das masmorras; os corredores caçam o pó; o pó degola os números; os números ficam perturbados na alucinação enigmática. Encontra-se uma brisa no céu, cada nuvem provoca gotas de sangue, murmúrios subtis a gemer os olhares cruzados das grades; apertado laço dos mortos sobrevive as explosões.
Nas profundezas, os Seres sentem-se enforcados, uma agonia a triturar o galope da locomotiva num incessante respirar de um palco inacabado.

Foto Daqui

Thursday, October 22, 2009

Abismos de Sons

Baú cheio de frascos

Tsimmmmmmm (Prolongado)

As pétalas no orvalho das serenatas,
A vastidão rouca grita no caos

Pim (Profundo)

Ensurdecedoras grades da liberdade
Dentro dos refugiados,
Inalcançável Poder da criação

Pim Pim Pim (Gota sonora)

O abismo emocionalmente perdido
Nos toques do infinito
Serpenteia a captação selvagem da lava

Slim Raspim Slim
Tlim Tlim Tlim (Sino uivante)

Fluxo de sinos a pingar o terror das Almas
Sons uivantes a ruminar relâmpagos

Chaplim Chaplim Chaplim (Toque no charco)

Thursday, October 15, 2009

Monólogo

Quando na fronteira das mesas redondas os olhos cruzam murmúrios, existe a inquietação dos caracóis num deambular fumegante das acções. O sopro do instinto consegue perfurar o algodão salpicado, em infinitos instantes, em efémeras gotas ardentes. Consegue-se aos poucos vislumbrar a chama do sossego, a conversa do silêncio com ele próprio, o bater dos raios fulminantes na dobradiça das rodas esvoaçantes. A carcaça do tronco esbelto dedilha mantos na casca dos ponteiros, pousados nos berlindes coloridos da mente.
Por isso cada veia do Ser jamais está mergulhado num monólogo, alimenta-se e sacia-se sempre do labirinto na borda selvagem das pontes com as correntes de licores escavadas ao relento da nudez.

Imagem tirada da net

Wednesday, October 07, 2009

Rezar

Ontem à noite comecei a mudar de religião, duma forma brusca para o qual pensava que só poderia acontecer a uma hora incógnita, mas aconteceu às 22:33. Nesta súbita mudança de minutos não poderia suster a respiração devido ao raio que me atingiu, esta metamorfose irreversível de que nem a fé concentrada na minúscula área adjacente ao fio da barba branca teve alguma importância. Esta fé que me catapultou para um patamar de oração à árvore do óbvio destilar do significado do além, um deslocamento proveniente das subtilezas para chegar ao desconhecido cambalear dos sentidos. Rezo agora em cima da nuvem no inferno do sossego, onde a religião que cativa os poros dos gemidos é o nevoeiro, a própria invasão do brotar.