Monday, February 27, 2006

Cicatrizes

Enterrado na montanha de sentimentos,
Pântanos de esperanças
Um só olhar, duas almas...
Forte desfile de folhas secas...

Vislumbrar cada toque,
A sentir a pele retida,
O olhar a acomodar-se nas cicatrizes,
O sorriso de dizer...amo-te...

Quando a felicidade chega
Já a minha alma está despedaçada.
Pergaminhos em pedras espetadas,
Aqui jaz o sonho...

A melancolia do sabor,
Concerto nas escrituras,
Desassossego silêncio,
Amor condensado na ausência...

Saliência na penitência...
Paciência sem fluência...
Reticência na cadência...
Turbulência...silencia a abstinência...

Cordilheira

As florestas de árvores delgadas,
Copa enlaçada no luar,
Néctares de raízes enforcadas,
Armadilhadas para amar...

Cordas de galhos enfeitados,
Na saliva de esperar,
Caminhos de sulcos atados,
Compenetrados em cada mar...

Corpos de trapos rasgados,
Não consigo navegar,
Felicidade nos baús fechados,
Dispersos remos a lacrimejar...

Cambaleio Dormente

Cambaleio na retina dos pés,
Os dedos dedilhados trovejam,
Resguardo na escadaria o pó,
Tempestades de cordéis racham-me...

Perdido nos degraus calcados,
Misturado no cheiro,
Contagio-me na alma de raios,
Na escuridão quebrada, desfaleço...

Dormente serenidade,
Sorriso delinquente retalhado,
Vaso que a lua ilumina
Os contornos de perfume...amo...

A alma a arder,
O gesto pendurado,
Rebolo nos teus fios,
Enrolo o ardor do calor...

Rasgar a Alma

Arranca meu coração
Destes linhos encarnados,
Desfaz os pedaços de sangue
Na união...

Apodera-te do que de mim não sai
Que lavra na agitação,
Que rasga a alma
Na cor da paixão.

Debruça a pele de fogo,
Corta o licor da ausência,
As chamas do Dragão virão
Nas escamas da mão.

Invade as veias,
Enraíza-te nos meus lábios,
Percorre o pé,
Caminhemos juntos...

Saturday, February 25, 2006

Fragmentos

Da fonte irrigo os caudais,
Da fricção da memória escavo,
Nos ramos quebrados clamo,
Da água esbatida rego...

Cadáver de semear as vidraças,
Solidificar o fogo, derreter nos ossos,
Olhar o sentir nas palmas das folhas,
Elevar a montanha para o inatingível...

Romper a fenda dos céus,
Esferas contíguas na respiração estonteante,
Almas que se penetram,
Solos que nas serranias fundem-se...

Fermentação de passos
a uivarem, penetro o amor
na essência das cortinas,
na fragrância de desaguar...

Friday, February 24, 2006

Bailado

Tenho a mão retalhada,
A Alma pesada no mar,
Fúria de ver passar a felicidade,
Recolhido por não poder amar...

Cada passo são dedos estendidos,
Esventrar o tremendo sulco,
Riscar o horizonte, ponte,
Dedilhar as profundezas da harmonia

Assustador por de tanta força acreditar
Por caminhos trespassado,
Sigo nas viagens
Do bailado de mãos...

Contido estrondo

Recolhe-se os quadros, recolhe-se o amor,
Calor transparente, moldura carente,
Vazio despido em momento retido,
Sem folhas nas veias, contido...

Imensidão de mar que ouve,
Mergulho no vácuo ausente,
Vontade de transbordar
Permanência de sentir trovejar, estrondo...


Gemo torcido no esqueleto,
Árduo odor de perfume,
Caixote de vidro repleto
Na persistência do lume...

Bebo !!

Bebo o café turvo da saudade
Caos deprimente, diferente
A ausência vincada
Infestado de demónios,
Mergulhado nas trevas...

Espírito de trapo, louco
Muitos sítios vagueio
Só num quero estar
Perdido o hábito, retido
Bebo o gemido do amor...



Thursday, February 23, 2006

Dedos

Silhuetas de dedos,
Danças que contemplam os céus,
Esqueletos numa forte melodia
Agregam-se envolvidos no odor.

As almas roçam de dor
Amplo querer, adormecido,
Embebido no esmagamento,
Nos traços da memória.

Leveza, Subtileza, Beleza...
Chuva forte nesta brisa,
Coração que ambiciona entornar-se na dança...
Maldito seja meu ser, por em prisão ter ficado.

Medusa

Múmia de mim, sagrando
Vestido com a pele rasgada,
Seguro o destino cantando
Na impaciente alma, desenrolada...

Medusa de fino seio,
Minhas vestes de perfume derramam-se,
Pinto petrificado a tela do caixão
As linhas das pautas glorificadas.

Roxo no aroma, preto na essência
Mergulhado como punhal,
Tremo sólido como estátua,
Olho vergado o caudal.

Nas cordas de violinos, nas teclas soltas,
Magma que arde insaciável,
Vertigem sedutora.
As impacientes linhas do nosso cheiro suspenso...

Wednesday, February 22, 2006

Porque?

Porque se fecham as portas? Porque nas janelas quebradas não germinam as sementes? Porque nas tormentas da minha alma existe o vazio? Porque em cada patamar se acredita na pura essência? Porque no espelho se vê a alma, e no reflexo se esbate? Porque o esqueleto da pele ama o seu reflexo? Porque a força esmorece quando o coração cresce? Porque se sente e não se quer fazer mais nada senão sentir? Porque se quer que as saliências sejam de licor de vida? Porque a via mais fácil nunca é a correcta? Porque não vale a pena correr contra a corrente quando não temos remos?Porque as teias do AMOR são tão fortes???

Amar


"Não ser amado é uma simples desventura. A verdadeira desgraça é não saber amar."

Desconhecido

Gelo Nu

Flores que trespassam o orvalho
Desassossegada pétala que pinga,
Moldes de nus estendidos
Nesta fresca manhã...

Som árduo do silêncio
Na semente da paixão,
As mãos roçam no ar
Enquanto só, fica o coração.

Sufocado em ti desabrocho,
Orvalhar, molhar, ficar,
Resplandecer nos banhos
Gelo nu, palpito...

Tuesday, February 21, 2006

Chuva

Chuva que grita torpidamente
sobre meus joelhos,
Que na escuridão de silhuetas, corre apressadamente,
nas árvores despidas, caiem os bugalhos...

Germinar sobre o dorso, levemente,
Fúnebre desejo de ter licor de mel,
Na essência das palavras que ecoam tempestivamente,
Da chuva bater, rasgar minha pele...

Perder a respiração
Na dor do subterfúgio,
Encher o frasco na coroa de pétalas,
Dos abraços congregados, aquecem a chuva, aquecem-me...

Monday, February 20, 2006

Flor de licor!

Pontas soltas, desprendidas,
Cheiro de forte, embriaga,
Corto as letras aos montes.
Brandura de cristalizar as veias.

Recolher o aroma em flor de licor!

Ausência Divina

Sinto-te dentro de mim,
Sinto a tua ausência,
Nas margens dos rios,
Nos sulcos das danças,
Nas telas de esboços.

Sublime calor que não é miragem,
Profundos cabelos de chamas
Na desordenada raiva da folhagem,
Ouvir a saudade
Da felicidade, esperança que esvanece...

Estreito Amar

Presenteio-te com a minha alma,
Ofereço-te a minha nudez,
Ornamentos despidos varrem o frio
Noites que outrora brilhavam.

Silêncio magro na plumagem
Evado as covas dos riachos,
Irónico sentido de amar
Na névoa exilado.

Estreitos e imponentes ossos
Muralhas que encharcam o ventre
Tenho a vida em ti,
Como o caminhar enterrado em mim.

Inverno

São santos os sepulcros
Gemidos rasgados, reflexos compenetrados.

No Inverno da alma,
Na solidão dos areais
Rochedos de punhais.

Pálpebras a rufarem de sentimentos
A ecoar no sangue gritante
Ao lado da claridade, gigante.

Estranho remoinho, escadas condenadas
À sorte infeliz da cela infernal
Arde o abismo fatal!

Faminto o queixo debruçado
Imerso nas paisagens de sonhos
Formam-se motins a esgrimar os olhos.

São túmulos que tropeçam no cérebro
Amadureço, colhendo o desespero...

Friday, February 17, 2006

Perfume

Vejo-te no meu olhar
Moldado na alma,
Circunscrita na escrita...

Unhas cravadas, esfumadas,
No peito rasgadas,
Derreter nas rosas perfumadas...

Amo-te

Amo-te na saudade.........................................linhas
Amo-te nas folhas secas.................................cores
Amo-te pela quente pele................................inferno
Amo-te nas ondas do mar..............................tacto
Amo-te nos nossos sorrisos...........................nus
Amo-te nas danças.........................................melodia
Amo-te entrelaçado nos dedos.....................perfis
Amo-te nas telas.............................................harmonia
Amo-te pela noite............................................fogo
Amo-te na paixão............................................doces
Amo-te nos carinhos........................................intenso
Amo-te no olhar................................................gémeos
Amo-te por entre teus lábios..........................reversibilidade
Amo-te na escuridão da luz.............................essência
Amo-te impregnado.........................................odor
Amo-te na lua prateada...................................espelho
Amo-te em tanto te querer.............................calor
Amo-te no rio a beijar......................................corrente
Amo-te em cada S. João..................................cemitério
Amo-te no túmulo de ossos.............................viagens
Amo-te na rosa vermelha, na tulipa negra....cheiro
Amo-te 23 versos nas montanhas do Chile...encontro

Amo...Amo...Amo...Amo...Amo...Amo...Amo...
Sozinho!!!
Amo-te
(O maior pecado de todos: Amar)

Thursday, February 16, 2006

Abismo

Absorver o rio que corre para dois lados, que corre com sentido, que corre no sabor do vento.

Tuesday, February 14, 2006

Beijo Profundo

Tenho a navalha escrita em papel
A força de levantar no orvalho
A perdição das folhas perdidas na pele
O perfume entrelaçado no teu olhar.

O toque dos sinos molham-se
no céu da saudade.
A madeira estala, gelada...
Quentes lábios ardem...

No nevoeiro do abraço
Sinto-te a pingar no meu regaço,
nos galhos rasgado,
profunda subtileza de olhar...

Monday, February 13, 2006

Frankestein

"Todos os humanos odeiam aqueles que são infelizes. Quanto ódio devo despertar eu que sou o mais infeliz dos seres vivos."

Mary Shelley, Frankestein

Nalguma margem

Cor que pinta a margem
que cai e se levanta,
a saudade de caminhar de cabelos levantados,
o fim de morder o calcanhar.

Os pensamentos de prosseguir no alvorecer
de olhos fechados,
caídos em vales sombrios,
na imagem de conseguir...algum dia...

Saturday, February 11, 2006

Raíz mutilada

Ossos mergulhados na solidão
Duro encontro das ondas,
Esqueleto dobrado com a mão
Vertigem amputada nas sondas.

Cada seta despida,
Cada fragmento desejado,
Alimento pautado, delgado,
Raíz mutilada, comprida.

Convalescer da improbabilidade,
Perder a terra do prego esticado,
Espalmar a agitação,
Estilhaçar a paixão retida.

Tronco

Friday, February 10, 2006

Vielas

Linhas de chamas que ardem
nas aguas do destino,
Longas ruas do alto, do alto,
sobem desconhecido na dor.

Vielas que se penetram
nas aguas que camuflam o perfume,
estreito de celas, a banhar os olhos
dos ossos que roçam no ardor...

Nevoeiro de pétalas estendidas nas mãos
O corpo sacrificado,
a alma esmagada,
o cheiro impregnado no amor.

Thursday, February 09, 2006

Tronco Coberto

As flores do campo adormecem na fogueira de gelo.
Os pés descalços sobem pelo esqueleto,
ouvem o toque dos sinos,
ficam retidos nas palavras doces que profanam a alma.
Os sons que dedilham as células
nas cordas dum violino,
calmante com o vento calcado.
Nos perfumes de resvalar,
tempo de pétalas,
expressão de amar calado,
a força de ser o tronco coberto.
Cordas que tocam no silêncio da pele
O som da ternura, do amor
Pinga a saudade de ti... tronco coberto...

Ilusões

"O cansaço de todas as ilusões e de tudo o que há nas ilusões - a perda delas, a inutilidade de as ter, antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim."
Livro do desassossego por Bernardo Soares ( pag.56)

Língua esquecida

O olhar de quente
toca no desassossego deprimente.
Amar a alma, calar o espírito,
de leve ver os trios, fortemente ficar frio.

É o rio de águas no horizonte...
O sonho de percursos, sonho partido...
As folhas nos cabelos, a chuva de cair...
O calor das brasas a estilhaçar...

Gelada coberta, alma descoberta
Sentir ao fundo, o quadro na esquina
noDesejo retido
pela língua esquecida...

Wednesday, February 08, 2006

Sempre

Dormentes olhos que vêem as arestas plantadas...
Pingam na florestam, pingam em cantos mornos...
Dormem entorpecido no andar, cantam no lugar...
Declinam-se no altar, sobem nos raios...
Declive de frentes semeado, cresce o lugar olvidado...

Sempre tudo, sempre nada, sempre algo...
Sempre a escuridão no declive...
Sempre as arestas que têm que ser puras...
Puros como os ramos das folhas que crescem na Primavera....

Parto, Reparto, Sulco

Reparto a alma no gosto...
Parto no ouvido das sereias...
Reparto a vista no horizonte...
Parto em pegadas de solidão...
Reparto meus vasos de flores pintadas...

Parto, reparto, sulco...

Sulcos de marés desviados...
Sulcos de sintomas que rasgam...
Sulcos das mantas molhadas...
Sulcos a galgar o resto...