Monday, October 30, 2006

Caixão

Colocas o caixão no meio das pétalas,
A tremer de espanto pintas
O esboço da cera que ondula nas velas,
A flutuar, a ferver nas brumas...

Transportam cantos no tecido,
Navegam ossadas de sentimentos...
A lágrima rompe, o rasgado
Rosto pinga com alimento...

Madeira suada...
Corpo maltratado...
Alma queimada...
Mármore moldado...Envidraçado...

Saturday, October 28, 2006

Wednesday, October 25, 2006

Poemas Esquecidos De Outubro II

Galhos

Ocultas a montanha coroada
Onde barcos divinos provam o vinho;
Pegas o frágil colo enrolado em linho
E os murmúrios da água abandonada...

São matrizes cruzadas, de dedos afiados...
Funis perturbados com o silêncio oco
Dum sorriso de asas, que fazem voar como louco
Os imortais ecos de galhos crucificados...

Os espíritos param nos altares
No mar, no ar, suspeitam das folhas
Em cada canto, dando tons às entranhas
Para perfumar, perfurar, os ramos encantadores...

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Mutilação

Chamaram a polícia...
Querem-me prender estes canalhas.
Têm os bastões hirtos, com a saliva a exaltar-se;
Nem os fantasmas dos pesadelos
Contidos nas grades os faz desaparecer
Na sua própria humilhação...
Bando de fornicadores
Que mutilam os órgãos dos anjos
Rindo-se das cicatrizes alheias
Para mostrar as fezes...
Os seus odores mesquinhos
Declamam a ocupação
Dos seres supremos...
Mantenham-se nessa ilusão
Seus cobardes.
Venham-me prender
Que ides ficar sem pele,
E aí sabereis como
Provar a vossa pútrida carne...

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Sei

Não sei de que cores pintaram as nuvens
Talvez de Lilás...
Talvez de Negro profundo...
Não sei onde está magia das mãos
Talvez em pó espalhado...
Talvez em cinzas perfumado...
Não sei como fizeram os socalcos
Talvez com miragens...
Talvez com mera ilusão...

Semearam pontes...
Armadilharam sem destino as trevas...
Plantaram desejos de maldições...
Acenderam marés-cheias de sons...
E no fim perguntaram num sufoco de letras:
-Ainda pensas em voar?...

Friday, October 13, 2006

Poemas Esquecidos De Outubro

Suavidade

A lua afunda-se na manhã submersa
Sem o tempo a pautar o toque,
Com sopros a acariciar
O esqueleto indestrutível da suavidade...

Porventura meus olhos fecham-se
Na elegância suprema de voar,
Distraio a mordidela,
Arranco no destino da palma da mão.

O bosque cheio de charcos
Perfumado num espelho olvidado...

My eyes are bleeding,
You are in my eyes...

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Chuva de Licor

De Alma corrente,
Deus de lábios com rios
Molda nas mãos os fios,
Escorre pela mente
O grito contido da semente...
A chuva de Licor;
Impiedosa e Cruel...

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Tatuagem de Lua

Tenho a noite no meu berço
Embalado nas estrelas de fogo,
Morte árdua e dançante...
Vestes negras acorrentadas ao céu
Pingam a coragem do olhar,
Dum momento de lucidez colectiva
À ruptura que na moldura dura,
Tem na escultura o grande pendura...
Sempre com a mão tatuada
De prata dourada...

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Punhal de Vida

Ó esqueleto sem ossos, que olhas do tecto
O tédio da atracção por máscaras,
Vazio da indiferença, atado em amarras

Se tocas dormente, vermelho teus olhos ficam...
Se chamas ocas queimam, teus braços seguram...
Se folhas caem, tuas vestes pintam...

Então, de que forma são tuas asas?
De mel embaciado, ou de gelo embalsamado?
És mórbido, louco insano!...Confundes as Ruínas.

Fogem de ti, da mesma maneira que se atam na cruz.
Sopram veemente por fogueiras secas, de luz
Nua a escapar nos canais ensanguentados.

Misantropo um dia te chamaram,
Num estranho orifício d desejo,
Assustaram-se com o jazigo ou um beijo!

Ceifas cada rosto, perfuras os seios,
Deixas o punhal dilacerar sem devaneios
E, sem remorsos perguntas quem és...

São longas tuas garras, afiadas sem espessura,
Negras, que um carrasco limou,
Enquanto na atmosfera caía a água pura.

São os traços, cicatrizes ou arestas floridas?
Sangram na mão? Loucura? Apenas sopros
Pálidos do olhos fascinados nos corpos.

Da Alma que cuidas na morte, sentes o odor
De lágrimas que se esfumam no assassínio da dor.
Chamas a ti a noite eterna dos corvos...Sangue!

Always red in your dress...undressed
“Loving you is like loving the Dead” – Type O Negative

Sunday, October 01, 2006

Até Já

A vida é assim. Tenho que continuar no caminho. Não vou seguir o caminho que queria, mas não posso fazer milagres onde não consigo ir com um simples pé. Parto triste e com os pés descalços, mas com o orvalho de danças na minha Alma que um dia crescerá de alguma maneira.