Saturday, January 31, 2009

Bailarinas Alinhadas

A dança nocturna das bailarinas habita o imaginário dos cogumelos negros. A visão fantasmagórica, do inconformado odor misturado nas montanhas, dos cumes espalhados de feitiços, a viagem deflagra a vastidão das chamas. Cada fissura adverte as ventanias para terem cautela, para sentirem escorregar a bengala dos sinos. O lacrimejar troteado pelo badalar pode ser ensurdecedor ao sussurro desassossegado.
Enquanto o canto povoado da escuridão pisa o almejado cogumelo negro, o ventre materno da questão interrompe o desalinhamento, e num ápice volta ao apelo do retalho. Espelho invertido, negro vestido geme, roxo despido treme.

Tuesday, January 27, 2009

Existência

“Dizemos muitas verdades mas elas contradizem-se umas às outras.” Fernando Pessoa – O Privilégio dos Caminhos

Puseram um caixão à beira da falésia, encostado no ventre do abismo infernal da existência. O paralelo mental risca o mapa, ardido no tempo intemporal prolonga-se o Ser até aos contornos dos fragmentos. Se forem as letras ou a capacidade experimental, o instinto sobrevive nele próprio ao complementar o estado selvagem, agrupar a vitalidade do pormenor descaído. Estilhaços ouvem-se no vazio como ecos de linhas de comboio, imparáveis na sede do orvalho, inflexíveis na nudez. Ir na direcção do rosto adormecido, sonho do qual a bebida serve ao infinito a loucura do não transbordo. Há quem orienta, indicando a vertigem do caminho correcto, mas todos o julgam ser uma companhia e não a verdadeira essência. A extensão cega de olhar o umbigo… O chamamento de ir além da fronteira do espaço, será o acolhimento, o verter para escutar o rasgar.

“Só que é melhor uma vida amarga do que… uma vida apagada, tristonha.” Andrei Tarkovsky – Stalker


* Baseado no filme Stalker de Andrei Tarkovsky

Thursday, January 22, 2009

Orgasmo Interior

As ruas estão repletas de nevoeiro, galhos a fugir com gotas de suspiros. Sente-se arrepios de calor nos perturbantes caminhos, fundir desencadeado pelas aberturas colocadas na Alma ao qual cada candeeiro rasga a pele, enigma da tensão existente na evaporação dos refúgios húmidos, esconderijos do renascimento que decoram o chamamento de sentir o cabelo molhado a esvoaçar. Os secretos lugares escondidos neste manto branco conseguem despir o nu, somente retalhando a imagem do alisado olhar. Nisso a nota rebola na fuga impossível.

Monday, January 19, 2009

Desejo Imperturbável

Os olhos brotam nas correrias do jardim, em sons de cascatas que sulcam cada recanto. Quentes águas, alucinados momentos, miar imperturbável ao desassossego. O cachecol toca os olhos do espaço a remexer encontros de seduções, onde o rebolar aconchega o ardor da impulsão intuitiva do agasalhar. A competição acopla o fértil instante, é chuva e vento, sem haver Almas deprimentes. Roçar da inocência, suspiro a gritar de desejos, o miar incessante no fôlego arrepiado dos gemidos; Assim os gatos imperturbáveis no seu deambular dão energia de prazer ao instinto, retalhando noites e dias na infindável obscenidade da metamorfose agitação. Sulcar a depravação em olhares felinos, a rapidez sequestrada num movimento que jamais poderá ser impedido de tão desejado que se torna.

Saturday, January 17, 2009

Miragem Do Mendigo

O Ser é mendigo do seu próprio nome. Escravo das letras impregnadas nos labirintos, cujo sabor infestado de divagações soletra os voos do destino. A proveniência dos risos eufóricos, fazem recair sobre este peregrino a lápida do seu renascimento, no qual em gritos soluçantes geme de vontade de entranhar o rasgo profundo da sua essência. Beber a corrente duma metamorfose de que de si tem o licor de criar o horizonte, sem cavalgar no nome dado de quando era mendigo.

Wednesday, January 14, 2009

Criança Com rosto

A visão distante cobre as articulações do esboço, nada respira no véu molhado. A aflição prisioneira da escrita, sentinela da memória, conversa interminável a perturbar o passo do fogo; são os retalhos que a letra vive como desconhecido; são os retalhos da Alma a conviver com o Ser. A dança embriagada das árvores faz recuar as margens, folha a folha, o nu da natureza a embaraçar a solidão. Explode o inferno das sensações, fôlego comprimido, onde os olhares sumarentos se degolam com prazer. Perdido, sou o vagabundo do caixão das gotas, lareira.
A ver: A Infância de Ivan de Tarkovsky

Sunday, January 11, 2009

Infinito

Propagar o infinito ao compasso da bruma.
Orar nos labirintos do sangue.
Suspirar da escrita no esboço da Lua.
Encadear a energia ao pingar do rosto.
Fluir prateado.

Friday, January 09, 2009

Eco

Amanhecer!
Sorrateiramente previ a inexistência do amanhecer, acontecimento do qual provinha do deambular intermitente da memória. Este recordar quase esquecido pôs todos os raios numa posição de extrema nudez, na aparência mais nítida da luz. A orquestra aclamou todos os suspiros de cada instrumento, fragmentar e arrepiar o profundo do eco mórbido do pestanejar, da sequência, cuja liberdade capturada à nascença estaria entretida. Reflectidos olhares de notas que os rios imersos em vulcões infiltram o alívio puseram-se a cantar, contemplação da beleza do entardecer. Majestoso o entardecer mantém-se puro, fiel às linhas da Lua, à sua própria essência.
Entardecer!

Saturday, January 03, 2009

Espelho

A paisagem acoplada ao rosto, aos olhos desfolhados, lábios seduzidos pelas chamas, carícia volumosa a levitar; reflexo forma suas linhas de fogo nos espelhos da miragem. Sempre a germinar, a imagem infiltrar-se nas subtilezas do inverso, a florescer os espinhos cravados da contemplação do destino. Este sangue esvoaçante trilha o fogo do momento, instantes permanentes do qual o peregrino devora o instante.
A viagem desencadeia a ceia impregnada da sorte. Cada instante pinga o estilhaçar do horizonte, desaguar do licor da fonte, dum cântico a envolver o estremecer, adormecer.