Sunday, January 30, 2011

Loire - França

Nos castelos existem espíritos de outros tempos que sentem as masmorras como um estado ceifado da Alma. Apodera-se o Ser até êxtases de pigmentos presentes a viajar pelo passado, a serpentear as labaredas da caça. Cai o interior fúnebre no regaço de restaurar o Ser na sua intimidade. Aprecio os salpicos da virgindade em cada ranhura que existe, escuto o vento majestoso assobiar nas teias mostrando o espelho das funduras, um palmo de repouso. Consigo construir nos meus dedos as torres que chegam ao céu, e fazem dos seus espaços o rio de sangue que derrama a esperança de enlouquecer. Fortaleza contaminada pelo veneno do renascimento.

Wednesday, January 26, 2011

Toledo - Espanha

Busco a marulha que envolve o ninho, escalo a mulher que orbita no meu âmago. Sou o reflexo vulcânico dos temperos insanos. Cavalgo no interior de mim, selvagem ardor de serpentear o veneno de infiltrar, de procurar as masmorras e ficar com o corpo marcado de pétalas.
Gravitar em torno do rio, das falésias, das muralhas, das catedrais… Sentir o espaço denso dos trilhos, esperar que do vaso pendurado na parede descaia a dança dos últimos pingos da levitação. Perto, muito perto, escuto o ciclo do vento a tornar o abrasamento a forma mais fácil de rodopiar. A envolvência da solidão do moinho.

TOLEDO

Friday, January 21, 2011

Picos da Europa - Espanha

A neve calca os picos e desce no seu vestido. As cavernas rasgadas nas rochas afunilam o Ser nos desfiladeiros, onde lá em baixo a água gelada encanta as margens com música fervente. Lagos a recolherem o sumo, a fazer o reflexo do céu na terra.
A armadura dos guerreiros tem aqui o seu castelo da memória, a resistência para depois conquistar, cavernas onde as fogueiras gemiam com as espadas cravadas nas rochas.
Sente-se a vertigem das falésias nas cruzes, a miragem dos estreitos caminhos a apoderar-se dos abismos. A alucinação tempera as cicatrizes das mãos, encruzilhar o infinito numa sequência de gritos desvairados. Sopro para ir além das margens, subir em remoinhos, até que o vento leve num destino o vislumbrar da própria profundeza, o olhar imaculado.

PICOS DA EUROPA

Sunday, January 16, 2011

Fisterra - Espanha

O mundo acaba onde o inferno começa. Por mais que se caminhe a esperança perdura como fogo nos anéis da liberdade. O estado vagaroso do tempo a escoar no por do sol, a afundar o sol, incêndio inalcançável mas que aquece o coração nas profundezas do mar. As ondas penetram as rochas, batem com o carinho de lá adormecer. A união do infinito clama pelo Ser num descanso sepulcral, na pujança estremecida de envolver o destino na enseada do fluxo. Saboreio o Altar numa bênção rendida. Não sei nadar mas sei absorver a essência de espremer as ossadas, juntar as pedras para construir a embarcação. Consigo escutar o assobio dos trilhos, bebo da fronteira o lugar das chamas. Repouso o Ser no batimento do voo.

FISTERRA

Thursday, January 13, 2011

Porto - Portugal

Foram muitos anos nesta terra onde se sente o abraço do rio Douro, nevoeiro empolgante das manhãs submersas a afunilar até ao mar das ebulições. O estrondo das chuvas fez sempre brotar vielas para gemer com pureza o destilar. O antigo mistura-se com o moderno num pulsar vibrante, cheio de intimidade. A saudade penetra a rude saudade com delicadeza, a ecoar vozes nos tecidos das janelas, cadência dos passos nocturnos a dedilhar o apertado ardor
Calcinar e desbravar a sensibilidade em múltiplos voos, em sistemas encadeados e perfurantes. Acorrentar o tempo nas ruelas, jardins, nas pedras aninhadas; o cântico máximo de entranhar.

PORTO

Tuesday, January 04, 2011

Infinito

Os Anjos ficam, os Demónios vão. São destes últimos que o fogo procura o seu destino mas que jamais saberá o quanto estará perdido no monte do caos que existe no baloiçar do infinito.