Tuesday, September 06, 2011

Vann Nath

Quando de repente se ouve o estrondo das tintas a rasgar o passado, questiona-se a forma de como os relâmpagos estiveram cegos ou não puderam revoltar-se. O metabolismo torna-se impotente, fica na sofreguidão de um apodrecimento lento, duma forma crua de solidão imposta. O objecto humano é torturado até ao último grito, fazendo eco sem o som se propagar. São lagos de sangue, caveiras de dor a desembargar naufrágios, mutilação absorvida. As Estrelas brilham intensamente no interior apesar de toda a atrocidade, de todos os fantasmas sem misericórdia.

Sunday, July 31, 2011

A Arte

Quando se encaminha para observação da arte é preciso saber que nesse momento o Ser é executado. Todos os sentidos entrarão no processo de absorção, catapultando para o extermínio de qualquer forma de retorno ao momento anterior. Todo o Ser despedaça-se, jamais para germinar, nunca mais para criar um trilho de pureza.

Friday, July 08, 2011

Trilhos

Olhai à vossa volta. O que há para descobrir no meio dos trilhos?

Saturday, May 21, 2011

Estepes Ucranianas - Ucrânia

Campos afundam a paisagem a transbordar o horizonte na fogueira da Alma. Escuto as casas assombradas que se escondem nos labirintos dos nevoeiros, romper a demência, clamar pela solidão de trotear os assobios das trovoadas. A alucinação mergulha no prado do não retorno, corredores de claridade esfumada, moldada no invisível arrepio. Grito para ouvir o silêncio, ouço o silêncio para tocar o orvalho, toco o orvalho para elevar a Alma. Enquanto isso os cavalos estremecem a terra, criando o terramoto das estepes. O sentimento esvoaça com ardor, uma brisa, uma ventania, a leveza intacta.

ESTEPES UCRANIANAS

Sunday, May 15, 2011

Campo de Auschwitz - Polónia

Sente-se o canibalismo evaporado, a visão dos sapatos libertos dos Seres. O ar está entrincheirado em arame farpado que rasga as tripas e se infiltra no desespero. Fornos encapuçados de pessoas, amontoados labirintos para o sofrimento, a monstruosidade para não olvidar. É quase impossível não sentir tanto esmagamento numa pessoa num só lugar. O corpo fica apertado, tão gélido que se ouve o ranger nos campos que incendeiam Auschwitz. Um rabisco na parede ou na madeira, a rudeza de um grito cobarde a amedrontar o inocente perdido. Para contrariar o passado no presente é preciso não deixar aprisionar os gritos e não pintar as celas com nevoeiro.
Atrocidade humana no estado puro da irracionalidade. O ódio de dilacerar preso em si na contemplação de ficar nas masmorras, no isolamento da solidão. Afinal é brincar com a vida, minar o seu próprio Ser.

CAMPO DE AUSCHWITZ

Wednesday, May 11, 2011

Desfiladeiro de Vintgar - Eslovénia

As rochas quase se tocam a beijar o tormento. A garganta ecoa as águas aos trambolhões. Fecho os olhos sinto-me entranhado neste bálsamo de sensações. As mãos tocam a brandura do som no vento, na mistura impaciente de afunilar o atrevimento bruto, derramar a eternidade na sobrevivência da queda das sombras. Os raios solares penetram timidamente numa brisa desconcertante; a sedução de saciar a chama, de despir as rochas com o orvalho das árvores.
Quando se mistura o eclipse com o afunilar da água os sentidos tremem de ansiedade. Tudo volta a ser captado com o cálice do momento infernal. Aqueles murmúrios descaem dentro do Ser em cânticos a criar sinfonias. Pinga o orvalho.

Friday, May 06, 2011

Parque Nacional Plitvice - Croácia

As águas desaguam numa frenética ebulição, povoam os segredos de se unificarem, de restabelecer o equilíbrio do paraíso. Do toque cavernoso do bosque a crepitar balas de outros tempos, germina o incêndio do fluxo intemporal da natureza. Há o momento de agrupar a paz, unir o estado de harmonia, deixar florescer o gelo para colher as flores que despontam pelos espaços vazios num festival de cores. As cores assobiam pelas aberturas dos ramos, acolhe a melodia dos animais, dando á Alma a sustentação de se preencher com as subtilezas das magias deste paraíso Croata.

PARQUE NACIONAL DE PLITVICE

Sunday, May 01, 2011

Fortaleza de Golubac - Sérvia

A estrutura de torres viradas para o céu faz transparecer remoinhos de ventania. Vento que sabe enlaçar-se às carícias das águas, estimular a energia do aconchego. Quando a protecção das muralhas clama esta companhia, a notas entram em partilha mútua. Tudo se envolve como de um coração se tratasse, estrondos abertos ao deambular da vontade. Nas beiras das torres os canhões gemem como calhaus isolados, contemplar a oscilação titubeante de mergulhar nos subterrâneos das cavernas. Congelo os pés ao mergulhar o relevo incerto no íntimo fluxo da floresta. Tudo se conjuga para amontoar as virtudes no coração, na teia explosiva das torres.

FORTALEZA DE GOLUBAC

Wednesday, April 27, 2011

Castelo de Hunyad - Roménia

O sangue brota nas esquinas das torres, reflexo perturbado pelas escadas que se enroscam em masmorras perpétuas. O sopro debruçado de empalamentos é a brisa suave perante o Ser no seu estado mais íntimo. Geme a visibilidade da transparência a colmatar a solidão imposta. A fúria intempestiva de rasgar o tempo permanece sem limite, sem fronteiras. Fase ao quebrar das grades as mutações cavalgantes torna o eriçado ardor a justiça de tornar as veias uma colmeia de degraus para saborear o estímulo dos sentidos embriagados.
Preencho a fogueira com o estalar frenético do corpo em chamas. Os pedaços desfragmentam-se ao sabor da insaciável combustão. Retemperar as grades do inferno.

CASTELO DE HUNYAD

Friday, April 22, 2011

Trigrad - Bulgária

Escuto os demónios invadirem a minha mente, a afunilar demências em puros abismos. Qualquer configuração simboliza o estreito trilho entre enlouquecer e endoidecer, contemplar estados vigorosos na permutação aflitiva de penetrar e não querer sair. Sufocar em suspiros, completa forma de guardar o eco na exteriorização dos gritos. A intimidade permuta com o fluxo da natureza num vai e vêm a prolongar o instantâneo. Não existe nenhuma margem para a sobrevivência, somente o tremor de galgar temperos de água insana num dialecto impronunciável. Quando as cordas são colocadas no alto dos penhascos, o som de voar apregoa ao vento para suster o fôlego. O fôlego respira demónios que foram e nunca mais voltaram a outras paragens senão a esta de Trigrad.

TRIGRAD

Monday, April 18, 2011

Estreito de Bósforo - Turquia

Este estreito é uma fronteira entre dois continentes, num sítio onde a água entrelaça sangue derramado, tesouros perdidos, balas de canhão ou ossadas afundadas. Suas margens morram castelos, combates de honra, ou cobardes roubos, ou autênticos massacres.
Os barcos flutuam freneticamente ora saindo ora entrando no Mar Negro, pérolas a estremecer a extremidade para puder sentir o oriente entrar nos sentidos do Ser. A coloração das variedades inunda os mercados de Istambul, a povoar o encontro das várias culturas num toque de lamparinas que escuta o balançar das estrelas brilhantes. Ausento-me dos meus ossos, vou até aos meandros do por do sol para incendiar o gelo sepultado no coração.

ESTREITO DE BÓSFORO

Tuesday, April 12, 2011

Eufrates Tigre - Mesopotâmia

As notas da lira propagam-se pelos rios, inundando as lanças que rompem a escadaria dos céus. O silêncio obscuro da areia cava os tempos de prosperidade, túmulos irrigados de abastados medos. A confusa ideia tortura o Ser, deixa-me suspenso na angústia de estimular as riquezas do passado. Todos os locais tem no seu âmago a criação de labaredas, em que quando se regressa se sente a ausência a perfurar a saudade. São estes remoinhos a espreitar a água do deserto que faz desabrochar formas alternativas de simbiose. Cultivar a propagação dos secretos, a incógnita tecla de brilhar além do firmamento, Lunar desejo de ficar impregnado pelos irmãos.

EUFRATES - TIGRE

Thursday, April 07, 2011

Petra - Jordânia

A pedra foi escavada numa meticulosa tarefa, árdua forma de semear o labirinto, de escorregar na penumbra dos tempos. Flutuar nas gargantas abertas das rochas, vislumbrar tesouros banhados em túmulos, gargalos de licores aromatizados. O vento escorre por estas vielas, mercadores dos tempos que as trilhavam com os camelos enchiam bolsas de magia. Enquanto a fé perdurar, as subtilezas do pó vaguearão como tempestades remotas que se aproximarão num ápice, se aninharão nas ruínas até elas incendiarem incessantemente na cordilheira das delicadezas.
Ouço a agitação dos murmúrios das ossadas brindarem a vinda da ceifa dos vivos. Mais fundo a iluminação escurece, mais as cavernas se tornam visionárias. Escritas que as pedras não escondem.

PETRA

Saturday, April 02, 2011

Jerusalém

Enfrasco os pecados do corpo no fluxo embebido do veneno. Gota a gota escuto o tombar dos relâmpagos, cruzes esboçadas na pele, ensanguentadas vestes do delírio. A salvação fica pendurada no enforcamento dos tesouros, cravar o papel para que de lá se queime a maldição, se funde os abismos no olhar da transparência.
Conturbadas masmorras que o céu oferece como dádivas da oração divina. São ramos de flores descritas nas oliveiras, no mundo que deveria ser de harmonia e é de conflitos permanentes pelo vazio. Quando o silêncio apregoa pelas lágrimas, a pureza tem que vir num abraço para germinar sorrisos.

JERUSALÉM

Sunday, March 27, 2011

Egipto

O ritual de escutar os mortos comprime-se com o sol a expor-se à escuridão. Habitar a pedra para fundir a eternidade, escalar para chegar ao ponto de fogo, o céu. Germinar nas margens do Nilo onde a serpente se ergue tornando o reino um amuleto sagrado. A água é a bênção dos Deuses, néctar escrito nos papiros do qual bebo do cálice das minhas mãos. A barba escorre da face deixando a nudez mostrar o desejo da insanidade.
Se provo o veneno torno-me um Demónio amaldiçoado, uma chama que sopra ao contrário das tentações, mergulhado em devaneios de sentir o chicote a estalar, a pingar o sangue de voar colado a timidez. Há um sentimento torturado no odor que se espalha, a energia da deambulação a cativar os pés, agraciar a leveza com o pecado da dor.
Intimamente envolvo o Nilo na pele...

EGIPTO

Tuesday, March 22, 2011

Pompeia - Itália

O terminal da exaustão perturba as cinzas, perfurar o espaço vazio, escava sepulturas. A erupção catapulta um cemitério no desespero da sobrevivência. Não desgosto de vaguear pelas ruínas, ou de entranhar as vivências. Cada fragmento absorvido pinga, cada grito ainda se ouve pelas ruas de pedra, pelos edifícios desmembrados da sua protecção. O silêncio a silenciar-se, a fuga que se torna impossível, o destino a cumprir um soterramento da Alma dum povo. Esta tela pintada com cinzas lubrifica o terror, um tempo antigo, mas o que me deixa perplexo é como se pode esquecer de uma terra por 1600 anos e dos seus habitantes? A humanidade por vezes esquece os seus para não deixar ser amaldiçoado pelo pânico interno.
Ficaram as estátuas a carbonizar o tempo, corpos mumificados que rezam pela salvação, numa mobilidade que rasga a vertigem num descanso interminável.

POMPEIA

Wednesday, March 16, 2011

Florença - Itália

Esboçar uma tela, criar uma estátua, pingar uma ponte, abrir a corrente e deleitar-me na fonte. Quanto a Arte se molda ao Ser resta deixar a vontade mergulhar, ir à procura do instinto, os ramos da sobrevivência. Jamais a lapidação da pessoa se pode militar ao básico, por isso a procura de catapultar a imaginação para o patamar do inconsciente revela no estado afundado o grito para visualizar a loucura e dela esmagar a melodia em suaves toques de subtilezas desejadas. As portas gemem quando as janelas estão congeladas na sua forma derretida. Tudo flui na harmonia de captar a sensibilidade, a busca do pormenor ínfimo a resvalar na corrente aberta ao olhar, ao coração.

FLORENÇA

Friday, March 11, 2011

Córsega (França) - Sardenha (Itália)

Existe sempre um estado em que as Almas Gémeas se encontram e de lá mergulham num sopro infinito para a caverna das sensações. A busca interminável poderia acabar aqui, neste fosso que junta e separa, mas o que faz é brilhar o esplendor de se unirem é de saber que estão perto, de poderem sempre acariciar quando os sentidos deixarem de existir. O choque das águas revolta os demónios das profundezas mas deixa no seu manto uma água cristalina, escavações dedilhadas ao sabor de delicadezas. Quando os olhos saltitam cria-se uma corda que une estas tuas terras, as germina num apocalipse de virtudes, a Santa Teresa e Bonifácio.

CÓRSEGA - SARDENHA

Saturday, March 05, 2011

Saorge - França

Pinto ao fundo as montanhas de neve, nas minhas costas é o recolho das brasas. As casas penetram o céu nas escarpas da encosta, sendo uma donzela a tecer a silhueta num pincel. Estão juntas a roçarem os sentimentos esventrados. Pele nua em tecidos banhados. A serpente moldada toca os brincos coloridos, solta os sinos para uivar para a eternidade dos sons. Os fios de cabelo deslizam como doces pedras no dorso da água, regando o meu seio, deixando o perfume das folhas nos Altares. Quando se escuta o sussurro dos murmúrios o coração bate e resvala para o tricotar da dança privada da natureza, um bater estremecido na delicadeza retardada de enlaçar o fragmento perdido, a pérola de entranhar.

SAORGE

Tuesday, March 01, 2011

Avignon - França

A ponte que acaba no rio, que se afunda no abismo, recolhe as queimaduras do inferno. Ponho as folhas secas que sobram da arca no cabelo, consagro a moldura de um boneco de neve e espeto-lhe a navalha de sangue nos seus pecados. Escore o sangue cheio de veneno para suavizar a sede do poder dos cegos. Cavo uma sepultura de neve, enterro-me num repouso ardente. Permaneço o peregrino de unhas negras que germina no frio da Alma ancorada ao trilho amaldiçoado dos galhos dispersos. Lapidar o corpo perante o destino, banquete estendido para jamais ser extinto pelos homens.

AVIGNON

Saturday, February 26, 2011

Floresta Negra - Alemanha

Sinto a densidade entranhar meus poros, os troncos a semear os meus pés de flechas prateadas, a vertigem de procurar o abismo das sensações. Elevo a água aos céus, o fogo ao corpo, deixo o pousio rebolar no meu interior, um assobio vulcânico de condensar os gemidos nos ecos prolongados dos sussurros. Perco-me sem me perder, afundo-me na escuridão num pestanejar enlouquecido. Propago o som pelas montanhas, pelo arvoredo que esconde os tesouros, rodopio enquanto escuto os pássaros a fazer a loucura de se abraçarem nos galhos sedutores.
A entrega procura o murmúrio incerto, fonte que faz brotar o escuto de permanecer resguardado, sem ser olhado mas estar a ser sentido.

FLORESTA NEGRA

Monday, February 21, 2011

Gutenfels - Alemanha

Nas entrelaçadas correntes do Reno o devaneio faz esculpir o desejo de regressar à delicadeza. Estas paisagens são fogueiras que aquecem o coração, vigiam o homem para ele não cair na tentação de fugir para o paraíso dos Deuses. Enquanto os remos sulcam o vento, as margens atravessam as cinzas das armaduras, fortalezas fundidas no olhar repousado no horizonte de fogo. Abre-se uma janela, tem-se o deslizar contínuo, a promessa anunciada de ser engolido por um remoinho de prazeres.
Sinto o vinho do Douro a estremecer nas veias quando navego o corpo no afogamento da sensibilidade. A semelhante a aproximar o devaneio, subtil forma de interiorizar a casa que habita em cada um de nós. O esplendor renasce na germinação do fluxo.

GUTENFELS

Tuesday, February 15, 2011

Kinderdijk - Holanda

Os ventos acarinham tempestades descontroladas, explosões que movem as pedras, produz o pó do vagabundo inconsciente. Captar o invisível para desenhar movimentos subtis no ar. Somos pequenos perante o gigante, somos ainda mais pequenos perante a agonia de tentar voar. Fico na terra, olho para o céu, Amo as cavernas, tempero a água com o toque colorido de desvendar a palpitação. Se o vento quiser sou levado pelo esgotamento, pelo destino do ciclo infernal. Se as hélices rodassem mais, tanto que montados nelas levasse os corpos, chegar à Lua, provocar um fogo-de-artifício mágico, remoinhos de danças pelos céus. Resta abraçar o deslocamento embriagado para sufocar o deslizamento dos retalhos aglomerados.

KINDERDIJK

Wednesday, February 09, 2011

Paris - França

O mistério aglomera-se em sepulturas nos recantos mais escondidos. Fujo pelas saliências, abro crateras, violo o silêncio para sentir o mais íntimo sossegar da solidão. Gosto de ser embalado pelos devaneios do tempo, longe do caos que morra aqui ao lado. A luz verdadeira da pedra ardente, do osso de marfim, dos fios de cabelo que cria perfis de demónios na minha mente. A escrita rasga as fundaras num salpico vulcânico, afundando o inferno, naufragando a pauta no meu rosto, no retrato de fogo.
Solenemente estremeço ao entregar-me, ao absorver a lentidão do pousio. A face do meu rosto beija-me até ao limite do impensável. Resta dilacerar o EU no cântico da nudez demoníaca.

PARIS

Friday, February 04, 2011

Monte de Saint-Michel - França

Muitas vezes dá vontade em ficar enclausurado numa ilha. A peregrinação de ficar isolado, suster a respiração do mar na crença de soprar o infinito. O monte eleva-se agasalhado ao céu, impregnado ao inferno, onde os ecos se afundam, onde se pode refugiar os medos. Trilhos enrolados preenchem o ninho dando ofertas aos recantos mais escondidos, o cálice embriagado. Deixo brotar a semente do meu corpo no manto da união entre o céu e o mar.

MONTE SAINT-MICHEL

Sunday, January 30, 2011

Loire - França

Nos castelos existem espíritos de outros tempos que sentem as masmorras como um estado ceifado da Alma. Apodera-se o Ser até êxtases de pigmentos presentes a viajar pelo passado, a serpentear as labaredas da caça. Cai o interior fúnebre no regaço de restaurar o Ser na sua intimidade. Aprecio os salpicos da virgindade em cada ranhura que existe, escuto o vento majestoso assobiar nas teias mostrando o espelho das funduras, um palmo de repouso. Consigo construir nos meus dedos as torres que chegam ao céu, e fazem dos seus espaços o rio de sangue que derrama a esperança de enlouquecer. Fortaleza contaminada pelo veneno do renascimento.

Wednesday, January 26, 2011

Toledo - Espanha

Busco a marulha que envolve o ninho, escalo a mulher que orbita no meu âmago. Sou o reflexo vulcânico dos temperos insanos. Cavalgo no interior de mim, selvagem ardor de serpentear o veneno de infiltrar, de procurar as masmorras e ficar com o corpo marcado de pétalas.
Gravitar em torno do rio, das falésias, das muralhas, das catedrais… Sentir o espaço denso dos trilhos, esperar que do vaso pendurado na parede descaia a dança dos últimos pingos da levitação. Perto, muito perto, escuto o ciclo do vento a tornar o abrasamento a forma mais fácil de rodopiar. A envolvência da solidão do moinho.

TOLEDO

Friday, January 21, 2011

Picos da Europa - Espanha

A neve calca os picos e desce no seu vestido. As cavernas rasgadas nas rochas afunilam o Ser nos desfiladeiros, onde lá em baixo a água gelada encanta as margens com música fervente. Lagos a recolherem o sumo, a fazer o reflexo do céu na terra.
A armadura dos guerreiros tem aqui o seu castelo da memória, a resistência para depois conquistar, cavernas onde as fogueiras gemiam com as espadas cravadas nas rochas.
Sente-se a vertigem das falésias nas cruzes, a miragem dos estreitos caminhos a apoderar-se dos abismos. A alucinação tempera as cicatrizes das mãos, encruzilhar o infinito numa sequência de gritos desvairados. Sopro para ir além das margens, subir em remoinhos, até que o vento leve num destino o vislumbrar da própria profundeza, o olhar imaculado.

PICOS DA EUROPA

Sunday, January 16, 2011

Fisterra - Espanha

O mundo acaba onde o inferno começa. Por mais que se caminhe a esperança perdura como fogo nos anéis da liberdade. O estado vagaroso do tempo a escoar no por do sol, a afundar o sol, incêndio inalcançável mas que aquece o coração nas profundezas do mar. As ondas penetram as rochas, batem com o carinho de lá adormecer. A união do infinito clama pelo Ser num descanso sepulcral, na pujança estremecida de envolver o destino na enseada do fluxo. Saboreio o Altar numa bênção rendida. Não sei nadar mas sei absorver a essência de espremer as ossadas, juntar as pedras para construir a embarcação. Consigo escutar o assobio dos trilhos, bebo da fronteira o lugar das chamas. Repouso o Ser no batimento do voo.

FISTERRA

Thursday, January 13, 2011

Porto - Portugal

Foram muitos anos nesta terra onde se sente o abraço do rio Douro, nevoeiro empolgante das manhãs submersas a afunilar até ao mar das ebulições. O estrondo das chuvas fez sempre brotar vielas para gemer com pureza o destilar. O antigo mistura-se com o moderno num pulsar vibrante, cheio de intimidade. A saudade penetra a rude saudade com delicadeza, a ecoar vozes nos tecidos das janelas, cadência dos passos nocturnos a dedilhar o apertado ardor
Calcinar e desbravar a sensibilidade em múltiplos voos, em sistemas encadeados e perfurantes. Acorrentar o tempo nas ruelas, jardins, nas pedras aninhadas; o cântico máximo de entranhar.

PORTO

Tuesday, January 04, 2011

Infinito

Os Anjos ficam, os Demónios vão. São destes últimos que o fogo procura o seu destino mas que jamais saberá o quanto estará perdido no monte do caos que existe no baloiçar do infinito.