Saturday, February 26, 2011

Floresta Negra - Alemanha

Sinto a densidade entranhar meus poros, os troncos a semear os meus pés de flechas prateadas, a vertigem de procurar o abismo das sensações. Elevo a água aos céus, o fogo ao corpo, deixo o pousio rebolar no meu interior, um assobio vulcânico de condensar os gemidos nos ecos prolongados dos sussurros. Perco-me sem me perder, afundo-me na escuridão num pestanejar enlouquecido. Propago o som pelas montanhas, pelo arvoredo que esconde os tesouros, rodopio enquanto escuto os pássaros a fazer a loucura de se abraçarem nos galhos sedutores.
A entrega procura o murmúrio incerto, fonte que faz brotar o escuto de permanecer resguardado, sem ser olhado mas estar a ser sentido.

FLORESTA NEGRA

Monday, February 21, 2011

Gutenfels - Alemanha

Nas entrelaçadas correntes do Reno o devaneio faz esculpir o desejo de regressar à delicadeza. Estas paisagens são fogueiras que aquecem o coração, vigiam o homem para ele não cair na tentação de fugir para o paraíso dos Deuses. Enquanto os remos sulcam o vento, as margens atravessam as cinzas das armaduras, fortalezas fundidas no olhar repousado no horizonte de fogo. Abre-se uma janela, tem-se o deslizar contínuo, a promessa anunciada de ser engolido por um remoinho de prazeres.
Sinto o vinho do Douro a estremecer nas veias quando navego o corpo no afogamento da sensibilidade. A semelhante a aproximar o devaneio, subtil forma de interiorizar a casa que habita em cada um de nós. O esplendor renasce na germinação do fluxo.

GUTENFELS

Tuesday, February 15, 2011

Kinderdijk - Holanda

Os ventos acarinham tempestades descontroladas, explosões que movem as pedras, produz o pó do vagabundo inconsciente. Captar o invisível para desenhar movimentos subtis no ar. Somos pequenos perante o gigante, somos ainda mais pequenos perante a agonia de tentar voar. Fico na terra, olho para o céu, Amo as cavernas, tempero a água com o toque colorido de desvendar a palpitação. Se o vento quiser sou levado pelo esgotamento, pelo destino do ciclo infernal. Se as hélices rodassem mais, tanto que montados nelas levasse os corpos, chegar à Lua, provocar um fogo-de-artifício mágico, remoinhos de danças pelos céus. Resta abraçar o deslocamento embriagado para sufocar o deslizamento dos retalhos aglomerados.

KINDERDIJK

Wednesday, February 09, 2011

Paris - França

O mistério aglomera-se em sepulturas nos recantos mais escondidos. Fujo pelas saliências, abro crateras, violo o silêncio para sentir o mais íntimo sossegar da solidão. Gosto de ser embalado pelos devaneios do tempo, longe do caos que morra aqui ao lado. A luz verdadeira da pedra ardente, do osso de marfim, dos fios de cabelo que cria perfis de demónios na minha mente. A escrita rasga as fundaras num salpico vulcânico, afundando o inferno, naufragando a pauta no meu rosto, no retrato de fogo.
Solenemente estremeço ao entregar-me, ao absorver a lentidão do pousio. A face do meu rosto beija-me até ao limite do impensável. Resta dilacerar o EU no cântico da nudez demoníaca.

PARIS

Friday, February 04, 2011

Monte de Saint-Michel - França

Muitas vezes dá vontade em ficar enclausurado numa ilha. A peregrinação de ficar isolado, suster a respiração do mar na crença de soprar o infinito. O monte eleva-se agasalhado ao céu, impregnado ao inferno, onde os ecos se afundam, onde se pode refugiar os medos. Trilhos enrolados preenchem o ninho dando ofertas aos recantos mais escondidos, o cálice embriagado. Deixo brotar a semente do meu corpo no manto da união entre o céu e o mar.

MONTE SAINT-MICHEL