Monday, March 05, 2012

Cadeira isolada


Existe um estado compulsivo insanável que comprova a despreocupação libertina do querer. Numa sala desprovida de móveis, uma cadeira isolada num canto. Os alicerces de madeira furam o chão imaculado numa provocação nua, palavras cruas a espremer a emoção da vontade. Ao escolher a misericórdia erecta a excitação rega freneticamente um regaço de dedos. Solidão momentânea aprisionada na dança do significado. Existência dum toque relaxado onde a palavra não silencia o acto. Acto do qual se espreme o enforcamento num romance de trilhos desconexos; galopa uma balada masturbativa. Apetece o desafinar constante de inventar o que respira da vontade. Não há um não, não há um sim, há somente o escorrer, um correr a descarrilar.
Não existem formas silenciosas, somente atracções para o abismo a provocar o pulsar. Agora o pulsar, e não só agora, o canto do silêncio da cadeira isolada na sala geme no seu mau feitio. Sem nenhuma razão a terra é rasgada pelos suplícios dos enforcados. A forca é o brotar da masturbação, e nela é dito tudo, noção perseguido por um tiro fulminante sem vergonha.

Monday, February 20, 2012

Obra


Ao não teres possibilidade de adquirires um livro pega numa caneta, folhas e mão à obra.

Manuel Pires

Thursday, January 19, 2012

Acontecimentos

Existe a contracção do organismo, o peito a desfalecer, a memória expande-se até ao limite. Foda-se; Pode-se por vezes escolher o lugar da morte, o subterrâneo da última sensação. O sopro é um apelo frio, um resto áspero da queda infinita. Estou perturbado. A memória está em expansão, quase a explodir. Para onde? Para que lugar? Para que tremidos orifícios? Não há resposta. Há múltiplas respostas. Toma-se um ponto como objectivo, aquele que pinga como orvalho desfalecido, e tudo treme de forma gélida, concentrada. O corpo e a mente juntam-se no abismo da tentação fúnebre. Cada estímulo pode desaguar num sentido ambíguo, uma flecha rude que marca o destino. Rasga-se tudo e o tempo passa à frente do fluxo.