Wednesday, April 27, 2011

Castelo de Hunyad - Roménia

O sangue brota nas esquinas das torres, reflexo perturbado pelas escadas que se enroscam em masmorras perpétuas. O sopro debruçado de empalamentos é a brisa suave perante o Ser no seu estado mais íntimo. Geme a visibilidade da transparência a colmatar a solidão imposta. A fúria intempestiva de rasgar o tempo permanece sem limite, sem fronteiras. Fase ao quebrar das grades as mutações cavalgantes torna o eriçado ardor a justiça de tornar as veias uma colmeia de degraus para saborear o estímulo dos sentidos embriagados.
Preencho a fogueira com o estalar frenético do corpo em chamas. Os pedaços desfragmentam-se ao sabor da insaciável combustão. Retemperar as grades do inferno.

CASTELO DE HUNYAD

Friday, April 22, 2011

Trigrad - Bulgária

Escuto os demónios invadirem a minha mente, a afunilar demências em puros abismos. Qualquer configuração simboliza o estreito trilho entre enlouquecer e endoidecer, contemplar estados vigorosos na permutação aflitiva de penetrar e não querer sair. Sufocar em suspiros, completa forma de guardar o eco na exteriorização dos gritos. A intimidade permuta com o fluxo da natureza num vai e vêm a prolongar o instantâneo. Não existe nenhuma margem para a sobrevivência, somente o tremor de galgar temperos de água insana num dialecto impronunciável. Quando as cordas são colocadas no alto dos penhascos, o som de voar apregoa ao vento para suster o fôlego. O fôlego respira demónios que foram e nunca mais voltaram a outras paragens senão a esta de Trigrad.

TRIGRAD

Monday, April 18, 2011

Estreito de Bósforo - Turquia

Este estreito é uma fronteira entre dois continentes, num sítio onde a água entrelaça sangue derramado, tesouros perdidos, balas de canhão ou ossadas afundadas. Suas margens morram castelos, combates de honra, ou cobardes roubos, ou autênticos massacres.
Os barcos flutuam freneticamente ora saindo ora entrando no Mar Negro, pérolas a estremecer a extremidade para puder sentir o oriente entrar nos sentidos do Ser. A coloração das variedades inunda os mercados de Istambul, a povoar o encontro das várias culturas num toque de lamparinas que escuta o balançar das estrelas brilhantes. Ausento-me dos meus ossos, vou até aos meandros do por do sol para incendiar o gelo sepultado no coração.

ESTREITO DE BÓSFORO

Tuesday, April 12, 2011

Eufrates Tigre - Mesopotâmia

As notas da lira propagam-se pelos rios, inundando as lanças que rompem a escadaria dos céus. O silêncio obscuro da areia cava os tempos de prosperidade, túmulos irrigados de abastados medos. A confusa ideia tortura o Ser, deixa-me suspenso na angústia de estimular as riquezas do passado. Todos os locais tem no seu âmago a criação de labaredas, em que quando se regressa se sente a ausência a perfurar a saudade. São estes remoinhos a espreitar a água do deserto que faz desabrochar formas alternativas de simbiose. Cultivar a propagação dos secretos, a incógnita tecla de brilhar além do firmamento, Lunar desejo de ficar impregnado pelos irmãos.

EUFRATES - TIGRE

Thursday, April 07, 2011

Petra - Jordânia

A pedra foi escavada numa meticulosa tarefa, árdua forma de semear o labirinto, de escorregar na penumbra dos tempos. Flutuar nas gargantas abertas das rochas, vislumbrar tesouros banhados em túmulos, gargalos de licores aromatizados. O vento escorre por estas vielas, mercadores dos tempos que as trilhavam com os camelos enchiam bolsas de magia. Enquanto a fé perdurar, as subtilezas do pó vaguearão como tempestades remotas que se aproximarão num ápice, se aninharão nas ruínas até elas incendiarem incessantemente na cordilheira das delicadezas.
Ouço a agitação dos murmúrios das ossadas brindarem a vinda da ceifa dos vivos. Mais fundo a iluminação escurece, mais as cavernas se tornam visionárias. Escritas que as pedras não escondem.

PETRA

Saturday, April 02, 2011

Jerusalém

Enfrasco os pecados do corpo no fluxo embebido do veneno. Gota a gota escuto o tombar dos relâmpagos, cruzes esboçadas na pele, ensanguentadas vestes do delírio. A salvação fica pendurada no enforcamento dos tesouros, cravar o papel para que de lá se queime a maldição, se funde os abismos no olhar da transparência.
Conturbadas masmorras que o céu oferece como dádivas da oração divina. São ramos de flores descritas nas oliveiras, no mundo que deveria ser de harmonia e é de conflitos permanentes pelo vazio. Quando o silêncio apregoa pelas lágrimas, a pureza tem que vir num abraço para germinar sorrisos.

JERUSALÉM