Saturday, May 21, 2011

Estepes Ucranianas - Ucrânia

Campos afundam a paisagem a transbordar o horizonte na fogueira da Alma. Escuto as casas assombradas que se escondem nos labirintos dos nevoeiros, romper a demência, clamar pela solidão de trotear os assobios das trovoadas. A alucinação mergulha no prado do não retorno, corredores de claridade esfumada, moldada no invisível arrepio. Grito para ouvir o silêncio, ouço o silêncio para tocar o orvalho, toco o orvalho para elevar a Alma. Enquanto isso os cavalos estremecem a terra, criando o terramoto das estepes. O sentimento esvoaça com ardor, uma brisa, uma ventania, a leveza intacta.

ESTEPES UCRANIANAS

Sunday, May 15, 2011

Campo de Auschwitz - Polónia

Sente-se o canibalismo evaporado, a visão dos sapatos libertos dos Seres. O ar está entrincheirado em arame farpado que rasga as tripas e se infiltra no desespero. Fornos encapuçados de pessoas, amontoados labirintos para o sofrimento, a monstruosidade para não olvidar. É quase impossível não sentir tanto esmagamento numa pessoa num só lugar. O corpo fica apertado, tão gélido que se ouve o ranger nos campos que incendeiam Auschwitz. Um rabisco na parede ou na madeira, a rudeza de um grito cobarde a amedrontar o inocente perdido. Para contrariar o passado no presente é preciso não deixar aprisionar os gritos e não pintar as celas com nevoeiro.
Atrocidade humana no estado puro da irracionalidade. O ódio de dilacerar preso em si na contemplação de ficar nas masmorras, no isolamento da solidão. Afinal é brincar com a vida, minar o seu próprio Ser.

CAMPO DE AUSCHWITZ

Wednesday, May 11, 2011

Desfiladeiro de Vintgar - Eslovénia

As rochas quase se tocam a beijar o tormento. A garganta ecoa as águas aos trambolhões. Fecho os olhos sinto-me entranhado neste bálsamo de sensações. As mãos tocam a brandura do som no vento, na mistura impaciente de afunilar o atrevimento bruto, derramar a eternidade na sobrevivência da queda das sombras. Os raios solares penetram timidamente numa brisa desconcertante; a sedução de saciar a chama, de despir as rochas com o orvalho das árvores.
Quando se mistura o eclipse com o afunilar da água os sentidos tremem de ansiedade. Tudo volta a ser captado com o cálice do momento infernal. Aqueles murmúrios descaem dentro do Ser em cânticos a criar sinfonias. Pinga o orvalho.

Friday, May 06, 2011

Parque Nacional Plitvice - Croácia

As águas desaguam numa frenética ebulição, povoam os segredos de se unificarem, de restabelecer o equilíbrio do paraíso. Do toque cavernoso do bosque a crepitar balas de outros tempos, germina o incêndio do fluxo intemporal da natureza. Há o momento de agrupar a paz, unir o estado de harmonia, deixar florescer o gelo para colher as flores que despontam pelos espaços vazios num festival de cores. As cores assobiam pelas aberturas dos ramos, acolhe a melodia dos animais, dando á Alma a sustentação de se preencher com as subtilezas das magias deste paraíso Croata.

PARQUE NACIONAL DE PLITVICE

Sunday, May 01, 2011

Fortaleza de Golubac - Sérvia

A estrutura de torres viradas para o céu faz transparecer remoinhos de ventania. Vento que sabe enlaçar-se às carícias das águas, estimular a energia do aconchego. Quando a protecção das muralhas clama esta companhia, a notas entram em partilha mútua. Tudo se envolve como de um coração se tratasse, estrondos abertos ao deambular da vontade. Nas beiras das torres os canhões gemem como calhaus isolados, contemplar a oscilação titubeante de mergulhar nos subterrâneos das cavernas. Congelo os pés ao mergulhar o relevo incerto no íntimo fluxo da floresta. Tudo se conjuga para amontoar as virtudes no coração, na teia explosiva das torres.

FORTALEZA DE GOLUBAC