Wednesday, October 29, 2008

Loucur

O tronco desramado é a imaginação dum louco. Num deserto consegue encontrar a floresta mais densa, num lago mistura divagações para encontrar o silêncio, num grito retalha falésias de suspiros. Faz da ruptura uma energia que bebe sofregamente na concentração fértil das obscenidades.
O ritual aglomerado pela matriz alcançável do riacho infinito faz com que o veludo cobre somente a cicatriz da mão. Nessa viagem os dedos dançam no vento formando gotas de licor. Aí o louco sentencia os lábios no eterno resplandecer da fissura. Bebe desenfreadamente abrindo o fôlego à sua imensidão...

Saturday, October 25, 2008

Loucura

O sopro de feitiços é a ilusão para um louco. Sempre vestido com as folhas só sabe encontrar razão no sentimento, naquela força da solidão. Nem hesita perante os olhos descaídos, nem a revolta das feridas que marcam a sua Alma. Procurará o alimento da imaginação para ser feliz. O louco não habitará ruas povoadas de pessoas, o seu lugar será num labirinto de divagações subtis, percebidas somente pelas grutas vulcânicas do desalinhamento. A forma de estar não é para ser entendida, o ruído dos pés são as mãos, as mãos são ramos das ossadas, sangue de gemidos, irracionalidades para os mortais. Dorme entre as brumas, a buscar o desabrochar das carroças, risco de profundidades superficiais aos ouvidos. O assobiar desse trilho é música de fantasmas, ameaça das sanidades, provocada pelo cordão de cabelos negros. Manchas amordaçadas dos loucos são criações de liberdade, frequentadas por obscenas vontades que ao aproximarem dos puros eles fugirão. Difícil aguentar tal devaneio. Nisso os “iluminados” não desejam ser contaminados por eles, por não pertencerem a tal caminho, nem aos balões de exageros de divindades e demónios que penetram suas mentes. Resta a eles sepultarem um punhal de desejos em si próprios, correntes de chamas provocadoras e devorar florestas com serpentes.
Como podem os loucos entenderem o beijo quando não sabem beijar? Eles não beijam, Amam intensamente as vertigens, incompreendidos sopram a ilusão para dentro da própria Alma.

Friday, October 24, 2008

Brutal Essência

Percorrer o roteiro das velharias à velocidade de múltiplos odores. Cada recanto repartido na lembrança das Almas, compilações feitos a um ritmo especial onde rasgos e rédeas não tem lugar. As sensações explodem para o visitante embriagado, o pedinte dos azulejos que intimamente se deslumbra com o saltitar do pormenor, acorda na esquina ao tilintar o sonho. Desajeitada beleza incorpora no rosto a busca infindável...

Wednesday, October 22, 2008

Metamorfose de Nota

A primeira palavra não tem sentido em relação à primeira. A última palavra provém do vento da palavra do meio. Meia palavra esquecida no horizonte da frase. Segmentos juntos, e estagnados na palavra. Ela própria a decompor-se em fragmentos de letras. Imperturbada palavra, ágil a cavalgar, descida vertiginosa, leva o fogo da palavra à fogueira. Palavra escondida da nota.
Ó nota que fazes “Trim-Plim-Trim-Plim-Plim”, rebola no manto alterado. Quando te ouvi pela última vez a tua sonoridade era diferente. Subias ao inalcançável e sussurravas: “Plim-Plim-Plim”. Gota a gota sabias resvalar na melodia da pauta, entretinhas as carícias do alento. Agora somente se pronuncia “Trim-Plim-Trim-Plim-Plim”, nublado de rosto pintado. A metamorfose garantida da…

Tuesday, October 21, 2008

Navegação

Abocanhai o inferno
Para serem vossos pastos.
Ide à procura da incurável
Questão da existência.
Se alguém não
For bem-vindo no trapézio,
Soltai forcas estranguladoras.
Ninguém irá gemer de reticências...

Estas pontes julgadas,
Fontes cheias de amarguras,
Brotarão...
Pedirão súplicas de agonia
Ao vento,
Gritarão pelas Almas abandonadas...
Sementeiras do ninho escondido
Esquartejarão a navegação.

Monday, October 20, 2008

Grito Oco

Quem mata o morto
Se não sabe crucificar o horto?

O agitado momento, esculpido,
Paranóia, simples movimento,
Empalidece o turvado aroma...

Caos desconcentrado relaxa
Envolto no hesitar.
Ingere-se o nevoeiro
Dentro dos lábios,
Gelado!

Perturbado sobre estacas
A carroça chia desenfreadamente...

Uivar desmesurado duma Alma!

Thursday, October 16, 2008

Infinito

A casa do sótão localizada no telhado da cave, encontra-se na esquina dum mapa, a tocar o labirinto da floresta. No contorno da horta profana-se a dor, relata-se como as fragrâncias são perturbantes, como a barba cortada ao acaso faz florescer cogumelos e, do suspirar desagua reflexos dum lago arrepiante. O mordomo devora à janela a chuva do destino.
Mas isso é o que se consegue a observar por um binóculo. Olhar duplo, rosto detido nas lentes, mãos de cordas; observa-se o licor...

Wednesday, October 15, 2008

Galhos de Tulipa

Ondular sobre a transparência, mordidela desconhecida, odor retalhado da nervura. Curvas oblíquas...
Quantos galhos existem numa nuvem? Galhos de escadas, Almas esculpidas ou a vertigem das folhas?

Fragrâncias da palma da mão com pedaços agregados ao suspiro, ancorados a um manto esplêndido de tulipas...Visão imaginária...

Monday, October 13, 2008

Lua Amedrontada

Recorro à chuva para me secar...
Desboto as cheias para puder navegar...

Invoco as folhas fracturadas das castanhas,
Atrapalho o vento no seu trilho...

Acordo o deslumbramento da mão,
Adormeço ao chegar da virtude...

Infiltrações do sossego....
Tormentos das asas...
Evasão dúbia das certezas...

Tuesday, October 07, 2008

Colheita

Havia masmorras para loucos quando o tempo era feito de pó. Grades colocadas no céu para não deixar os deuses se aproximarem das insanidades, nem dos banquetes destes seres, nem da colheita destilada das suas Almas.

Monday, October 06, 2008

Folha em Branco

Círculos enroscados numa superfície estalada, sobrevoa o tempo da imaginação. Chegam as folhas juntas dos gritos, escavando o corpo na tortura mórbida das tocas, e no desespero do labirinto o cabelo enlaça-se nos troncos rígidos.
Uns escalam muralhas, outros preferem poços, até sulcam campos devastados pelas inundações. Mascaram-se de lobos, sem puderem almejar à criação; vestem-se com cores mutiladas de violações sem se aperceberem do precipício; correm desalmadamente sentindo a ousadia da vontade com as mãos atadas às fogueiras frígidas; tiram imagens para a posteridade, fabricando um conto do qual ninguém pertence ao ser; afundam-se sem tocarem o infinito, ou tocarão sem eu o conseguir entender…

Saturday, October 04, 2008

Brilho Gélido

Readquiri o prolongado cântico
No reencontro da perplexidade.
Difusa queimadura de fogo
Renova o sopro
Com o brilho a escaldar
O renascer do ciclo virtual.
Emerge a escravadura obediente,
Aquela cuja sua manta é enigma,
Aquela cuja Alma é magma.
Instantes fugazes do oriente.

Servir o insípido
Torna a criação
Um progressivo vulto embaciado.
Da repetição não germina um caixão.

Friday, October 03, 2008

Mergulhar no Suspiro

O corpo está banhado no próprio corpo. Um mergulho para devastar as raízes, tornando a envolvência um perfume prateado transparente. Danço num suspiro, na gravidez da minha Alma, ardentemente, sem receio.