Thursday, November 02, 2006

Últimos Poemas Esquecidos De Outubro III

Vidente

Sacrificaram a intensidade de tragédias
E nas palavras dispersas, rasgaram o vento
No meio de trovões, punindo os dias
Que se perderam num sopro, num alento...

Da noite deflagram fogueiras esqueléticas,
Areias quentes sentidas na moribunda sombra
A enroscar, a contorcer, a esquartejar, esquizofrénicas
Nuvens que se escondem na penumbra.

Os picos singelos vestidos de mancha quebrada
Furam pelo tempo, fardados...Aí ouve-se
Algo....O alisar contraído do vidente...

...........................................................

Constrangido

Os bordéis são vossas tocas.
Encheis de álcool os excrementos
Em volta de remoinhos,
Engolindo falsos risos.
Do beber trocais
Para do nada fugir,
Para um baú oco com remos ir.
Até que incendiais o fogo,
Humilhais a indiferença
E no Outono tudo vai ver a lareira,
Sem saber onde ela está...
Descalçais a superfície da casca,
Mordendo num toque fugitivo
Ou num abcesso ridículo do olhar...

Fico constrangido dentro da futilidade
Estando felizes, sossego...frio e gelado...

...................................................................

Ancião Abandonado

Andais a sepultar flores
Em cima das campas que não são vossas;
Acasalais nas fendas das dores
A perdoar humilhações nossas;
Amaldiçoais arder nos vitrais
Por dentro de Almas seladas;
Purificais trocas em poços infernais
Pela memória das badaladas...

Cadáveres gigantes engolirão as cruzes
Do pó empilhado, a seduzir
O ancião abandonado.
Nada restará além da dança das colinas,
Na lembrança esquecida das unhas mutiladas...

5 comments:

Alisson da Hora said...

"Da noite deflagram fogueiras esqueléticas,"
Aí está um verso o qual gostaria de ter escrito...belospoemas esquecidos...

abraços

a.h.

Göttlicher Teufel said...

cheio do ordinario,,,

Anonymous said...

Desfazendo as ilusões,
teremos o abraço de apoio.
E assim vemos que afinal eram apenas ilusões,
perigosas e confortaveis...
Não há tempo suficiente para saber o que fazer,
apenas viver e esperar que a ilusão seja real.
Queremos saber o que fazer.
Transmitimos o que sentimos e esperamos,
para que tudo não seja mais do um sonho.
Despertar, sentir, mudar, ser mudado, paz...

DarkViolet said...

. Esquecidos em ossos com memória.

. 7 costuma ser um número mágico...:D

."cheio do ordinário,,,"?!!!..não percebi

. Guerra e "paz", um livro de Tolstoy!

susana said...

A tua dita futilidade ás vezes é um refúgio, outras vezes um aconchego!Para-se o tempo e esquece-se a vida! E há sempre a esperança, de encontrar nessas cavidades obscuras, résteas de luz e um novo olhar!
beijos...disseste que ías mudar de estilo radicalmente, mas não noto grandes mudanças :)))