Há o sentido do vazio quando se chega ao ponto final da existência. Pode-se ponderar vários factores nessa turbulência, equacionar o impossível, transformar a realidade em ficção; com algum apetite voraz pode-se acreditar na continuação da vida para além da morte duma forma ou de outra. Nesse cenário tudo é realizável para quem aí chega.
Agora quando o homem (versão masculina) se apodera dos corpos alheios, da sua companheira, da sua amante, da sua mulher (ou qualquer sinónimo possível que acham mais plausível), e daí passa para a carnificina pura e dura, assassinando a mulher, a ele, ou até os filho (s) a questão passa para um pensamento de posse injustificada.
Como se poderá chegar a esse ponto de acção?
Complexo sem dúvida. Tentarei em breves passos explanar alguns acontecimentos que provocam tal acto. Haverá mais, não duvido de tal, mas acho estes os mais importantes.
- O controlo de todos os movimentos seja feito na sombra, ou com uma venda nos olhos num estado despido (controle mendigado), ou até ao ponto máximo do auge, controlar obsessivamente todos os passos sem descrição. Nisso tudo existe durante a fase do relacionamento, fases intermédias em que se faz um pouco dos três, a baralhar completamente estados emocionais.
-Discursos com visões completamente opostas, feitos em momentos diversos. O homem acaba por ter de mudar a sua visão, sem se aperceber do ridículo da situação, nem pondera tal facto. Todas as perspectivas têm de encaixar na sua versão, se isso não acontecer irá tomar partido da opinião da mulher para não a perder. Incoerência do deambular das palavras.
- O diálogo é a miragem. União baseada no monólogo, aceite e quando questionado pode levar a um mal-estar no relacionamento, perspectiva mais positiva.
- Motivações do “casal” completamente opostas que de um momento para outro coincidem em todos os pontos. Quando o relaxamento das pessoas acontece, aparece as divergências, tentando de novo a coincidência. Tal coincidência é forçada, e não realizada com a pureza da Alma.
- A agressão física vista como algo normal. Começa por pequenas pancadas, subindo o tom até se tornar insuportável. Arrependimento precoce pelo acto de agressão, perdoado pela mulher. Continuação desses actos. Ciclo vicioso. Isso pode-se aplicar também a agressões ditas psicológicas.
a) Poucas agressões – ruptura.
b) Muitas agressões – ruptura.
c) Muitas ou poucas agressões – aceitação.
- Questão dos filhos leva muita das vezes à aceitação dos acontecimentos. A ruptura não acontece para dar Amor ao(s) novo(s) Ser(es). O homem vê isso como ideal para continuar a absorver um relacionamento fictício, mas real para ele.
- A pressão do endividamento familiar ou a dependência financeira de um em relação ao outro, leva ao continuar da ligação. Tensão violenta do poder económico, e muitas vezes a manutenção do Status Quo.
- Criações de ilusões impossíveis de realizar para ambos. Imperceptibilidade da incompatibilidade, levando ambos para uma utopia ilusória, trajecto composto de miragens inalcançáveis.
Quando a ruptura acontece desencadeia-se um repouso falso. O homem tenta aperceber-se a causa que desencadeou tal acontecimento, por vezes auto culpando-se, ora pondo a perspectiva de haver outro homem na vida da mulher, ora culpando a mulher por não ser honesta em sentimentos e actos. Tenta a reconciliação abordando a perspectiva sentimental. A promessa é feita na perspectiva de um retorno a um “paraíso” do começo longínquo. Torna-se obsessivo no intento, chegando de forma camuflada fazer o que já se fazia no relacionamento. Um camaleão camuflado muito mais perigoso, um predador sem escrúpulos, tudo vale até se humilhar perante ele próprio e das pessoas que o rodeiam. É o controlo mendigado feito com muito mais astúcia do que na situação do relacionamento. Torna-se aí irracional, completamente desprovido de valores, sendo a posse do seu objecto (a mulher) o único objectivo a conseguir. Não irá parar até isso acontecer, seja duma maneira ou de outra. O sufoco será tanto que desencadeia reacções diversas. Irei somente salientar uma, em que a mulher decide conscientemente com ela própria, recomeçar a sua vida noutro lugar. Leva a sua determinação, vontade e sentimento até onde ela plena de si sabe o melhor para ela, onde ela desejar. Tudo isso leva a um choque gigante no homem. Pensando para ele próprio, e por vezes dizendo a ela (maior pressão – descontrolo quase total):
“ Ela não vai sobreviver”
“Vou-lhe fazer a vida negra”
“Planos para que os amigos em comum a odeiem, não voltando a falar com ela”
“Irei vigiar cada passo dado por ela, aqui, ali, em todo os lados possíveis”
“Tu vais voltar para mim, tu sabes disso”
“Fomos feitos um para o outro. Ninguém nos vai separar”
“Não tens capacidade físicas, nem psicológicas para ser atraente”
“Amo-te. Tu também me Amas”
“Ai de ti arranjares outro homem”
Resultado:
A mulher ignora-o, ele não aceita.
A mulher refugia-se no mundo dela, ele não consegue lá ir.
A mulher sobrevive, ele planeia o afogamento económico dela.
A mulher cria laços de amizade, ele vê relacionamento amoroso.
A mulher apaixona-se, ele congemina um plano final.
Racionalmente aproxima-se dela por a dita “amizade” e o homicídio é realizado. Irracionalmente assassina tudo o que rodeia. Tudo que alguma vez pudesse significar algo. Ela, ele, filho, filha, mãe, pai, companheiro actual dela... Um ponto final dado insipidamente, sem dar o valor a si mesmo, nem à sua vida.
Este homem irracional desprovido de qualquer auto estima, amor-próprio, orgulho, sensatez, objectivo de vida diversificado, destaque-se pela brutalidade do fim simples. Inacabado no seu vazio, aposto que nem os vermes o desejarão devorar na terra.
Aos mais de 40 homicídios acontecidos em Portugal no ano de 2008 é revoltando a condição do homem para chegar a esse ponto. Se a mulher quer criar a sua vida de outra forma, deixai-a ir. Cada Ser é único, merece o estado que procura. Se ela não o encontrar, terá o trajecto feito na procura de outra forma. Se ela encontrar será feliz, o que deveria trazer para o homem satisfação. Não há maior prisão do que sentir ter feita a escolha errada, e não é preciso estar a esbofetear isso como se fosse comida. Todo o ser humano sabe das escolhas erradas durante a sua existência (há uns que não sabem, mas isso está dependente da falta de QI), sendo o erro característico do ser humano. Provocar a germinação da vida tem ser uma constância, não a sua decapitação por um acto obsessivo e duma irracionalidade atroz. Para isso, um suicídio é um acto com mais valor, tanto a nível de números de mortes, como de implicações de tirar a vida a outra ou outras, apesar de não trazer tanto lucro para as agências funerárias (humor negro).
A vossa batalha deve ser o esplendor da vossa essência, nada mais; sendo isso um objectivo puro e válido para uma eternidade de aconchegos ao fôlego permanente.