Friday, March 31, 2006

Tela

Acordei pintado
Na falésia da memória...
A árvore com galhos sulcados
As raízes de vermelho vivo...

Sangue de lágrimas na terra,
A germinação de arco-íris...
As pedras moldadas
Em céus dobrados...

Cores que pingam
No paladar de cheiros...
Fantasio nas minhas mãos
O trevo de quatro folhas...

Thursday, March 30, 2006

Baloiço

A eternidade do baloiço
MOla estendida a pingar,
TEnho na alma os pedaços, morangos...

FIco no perfume da sela,
LImPo o dorso do olhar,
A turva pálpebra descai...

Ninho de trevos
Ouvindo a suavidade...

AR dedilhado
COlorido numa manta...

Incendiar as flores,
RIndo no prazer do sorriso,
Sentindo o baloiço a saltitar...

Wednesday, March 29, 2006

Piano

Acordei dum sonho
Dum punhal de silhuetas,
Ofuscadas em maremotos
Nos movimentos de rasgos...

Tremo de tanta impotência...
As teclas soltas, resguardadas...
Fogo de luz branca,
Pintado no sossego...

Vou brincar no piano,
Esticar as cordas,
Ouvir as cores a saltitarem...
E quando for de manhã vou recomeçar
A ver a Lua, a minha Lua...
Que é nossa, que será sempre nossa...

Tuesday, March 28, 2006

....River....

Cego estou...Triste de sentir...Vermelho de amargura...Olhos escondidos...Altar de velas...Corrida sem destino...Não sei nada...Sei alguma coisa...O rio, mais um rio, aquele rio, o outro rio...Só quero um rio....

Thursday, March 23, 2006

Amarei sempre quem adora os cavalos...




Eterna intensidade que arderá até as asas virem buscar as ossadas...

"A vontade de Viver primeiro afirma-se, depois nega-se"

Shopenhauer

Fogo Eterno

Wednesday, March 22, 2006

Sorte na morte

Pés descalços com a dor do vento
Mil cores de lenços a escavarem
Marasmo sem perigo, nem alento,
Arco-íris de nudez a deleitarem...

Campos de ruínas em lágrimas movido
Encaixar a alma em perfis de cordéis,
Soltos e esticados no ouvido
Debruçado no túmulo de papeis...

Passado, presente, futuro...
Orgulho, tempo, morte...
Ficou, perdido, curo....
Lágrima, abismo, sorte...

THE TWELVE MOONS

Tuesday, March 21, 2006

Página branca

Encontrei minha página em branco no canto da cama. No esqueleto das pontas entreabri as reticências, rasguei as sombras, e olhei cada milímetro de espaço que molhava os lençóis. Vislumbrei o cavalo de dorso doce na miragem da folha em branco. Lacrimejei, de gota em gota à espera de ouvir o casco a levar-me pelo horizonte de silhuetas, a dobrar as crinas chicoteando o destino. O som de longe fugia para o fundo da cama, num cruel abismo. Uns passos largos de folhas em branco...

Monday, March 20, 2006

Stanislav Plutenko

Coração amaldiçoado

O sentido desconhecido
Do vazio retido,
Nas margens aprisionado
Face de saudade cavado,
Coração amaldiçoado
Pela imagem silenciado,
Mumificar recortes
Doentio mundo de cortes...

Transparente alma de tulipas,
Magia fatal, ruela de esboço,
Inundações no navio encalhado,
Tempo mutilado na eternidade esventrado,
Petrificado nos vitrais do amor
Dizimado na pureza de estar,
Nunca mais serei, aquilo que quero ser...

Viagem

No parapeito do céu, no abismo do Inverno,
Rodas de fogo a percorrerem os trilhos das searas.
Sina na mão tatuada
O desejo de cigano no sangue a escorrer...

O fogo arde na espuma,
Dialectos de cores na paisagem,
Correntes degoladas viram bruma,
Transpiração no patamar da miragem...

Gritos de fornos na brandura,
Chaves escondidas à mostra,
Retrato de preto a espalhar verdura,
Marcha de raios, chuva desperta...

Friday, March 17, 2006

Gota de orvalho

A chuva deitada no relvado sulca o horizonte, por entre ramos de cheiros, pela espessura das linhas, dentro da seiva de viver. O perfume do orvalho lacrimeja por cada canto, despido de preconceito, aberto nas tentações de sentir o único rasgo que faz sangrar, a resvalar nos trovões da felicidade. Sempre que a pinga descai pelo ombro, o sorriso entreabre-se na ternura dum sino, na colmeia de tentações que inundam a erva já de si pouco segura. Cada manto canta no toque de simetrias assimétricas.


Wednesday, March 15, 2006

Doce Os(s)o

Fogo de tronco, formoso
Silhuetas dum sorriso, harmonioso
Gestos de língua, amoroso
Brandura de olhar, delicioso
Rasgos de pétalas, melindroso
Caveira de demónio, fogoso
Cativante penumbra, oloroso
Impregnado em aroma, cheiroso
Devastar o destino, impetuoso
Amar na solidão, silencioso

Lua desfolhada, majestoso
Coração arrancado à alma, doloroso
Absorver a lâmina da paixão, caloroso
Sufocado no prazer, carinhoso
Embriagado em néctares, viscoso
Tacto projectado em ti, gostoso
Escultura de danças, cavernoso
Descair a voz no mel, afectuoso
Cor brilhante de diamante, pingoso
Corpos de torrente em rios banhados, caudaloso

Junção da união, prodigioso
Sangue de seiva que perfuma, poderoso
Brincar na delicadeza, cremoso, esplendoroso...

Tuesday, March 14, 2006

Trovões de lua

Asas que voam nos céus,
Peitos de oceanos a ouvirem
O calor acesso de silhuetas,
Lentas noites de pegadas picantes...

Inflamam as curvas dos trovões,
Firmamento de pétalas de sangue,
A culminar o deleite da exaltação,
Na magia a escaldar...

Forte perfume que palpita
Em luz que contagia demónios,
Feitiço de duende,
Sangram na lua dormente...

Monday, March 13, 2006

Searas



Searas douradas flutuam no sol escaldante...

Folhagem

Meus pés estão descalços com os dedos a abrirem-se em fendas, a escorrerem na areia a dor de ver o tempo passar. Sobre o gelo, dentro de insónias, meu corpo adormece como grânulos que se vestem na despedida. Na variável de escutar as aves, nos troncos descobertos da folhagem, no tétrico desespero de querer ser feliz, a múmia caminha. É a sonda da ampulheta reservado no calor de salpicos que cobrem a aragem, brisa de tempestades que perfilam o dorso do orvalho... dedos descalços...


Friday, March 10, 2006

Citações

"A importância de uma pessoa não se constata quando estamos com ela, mas sim quando sentimos a sua falta."

"Amar não é aquilo que queremos sentir mas sim aquilo que sentimos sem querer!"

"As vezes na nossa vida, cantamos a soluçar, escondendo o que sentimos com vontade de chorar"

"A verdadeira lágrima nao é aquela que dos olhos percorre a face, mas sim a que sai do coraçao e percorre a alma."

"Amar um Ser é Matar Todos os Outros" Albert Camus

"Não Pode Existir Amor Sem Verdadeira Troca" Antoine de Saint-Exupéry

"Nunca Nos Separamos do Primeiro Amor" Marguerite Duras

Morrer de Amor...

Thursday, March 09, 2006

Desassossegado sossego

A paisagem desbota,
Licor de mulher conforta,
Bela capela de mármore,
Rotundas de fornos...

Cactos que adoçam os néctares,
Arrebatar o olhar, culminar o prazer,
Almas de fogo a pautar o sol,
Conchas a fervilharem de meiguice...

Embalamos as luzes de sombras
No entardecer do vento,
No acordar dos raios,
Ladeiras de desassossego, sossegado, acaricia-se, delicia-se...

Robustez de afectos na melancolia do desejo,
Corpos derretem-se no afecto, a pele...
Dissolver o perfume de frascos comprimidos,
Encher a essência de aromas...

Roçar a sensibilidade,
Nas emoções de amar,
Na profundeza abraçados,
Geme o tempo...gememos...

Tuesday, March 07, 2006

Suspiro

Preta vestida, despida,
Pinga a fúria do mar,
Penteia-se nas ondulações
As mãos traçadas, suspiro...

Intensidade de murmúrios,
Desejo ardente a percorrer,
A pele suspensa,
Calor no gelo, suspiro...

Mãos que sussurram,
Brechas a brotar energia,
Línguas enlaçadas,
Lábios agrestes, suspiro...

Túmulo que ressuscita
Em subtis toques gelados.
Admira-se as subtilezas
Misterioso vento, suspiro...

Sobe o prazer,
Derrete-se o som,
Trovão de correntes,
Sentir a intimidade, suspiro...

Monday, March 06, 2006

Friday, March 03, 2006

Vento, Bento..

Azulejos de história,
No azul dourado de linhas,
Descair na memória,
No domingo, do coração vinhas...

Portão entreaberto de desejo,
Lábios desconectados do lugar,
Possuídos minhas silhuetas vejo,
Suavidade arrebatadora...

Subida íngrime para o éden,
Delícias voluptuosas, franzina,
Descida no vento
Para derramar no mar...

Pingar da chuva nos acolhe,
Mais uma vez, outra vez,
Revoltar o sentimento
Contido, absorvido, retido...

Entre lábios pingados,
Entre mãos densas,
Entre o lume,
Entre nós....

Thursday, March 02, 2006

Full Moon Madness

Abertura da serenidade,
Limitado ás cartas de magia,
Números que voam desalinhados,
Idas em busca do olhar...


Soltas conversas
Em intensas fragrâncias,
Palmilhar as mãos
No rosto delicado...

Pautado, sentado...
O perfil de faces frontais, vitrais,
Fundo de alicerce crepitado,
Momentos no cais...

Brando olhar a rasgar,
Impaciente vigor,
Lua a pacificar,
Caminhos de odor...

Forte ela contagia,
Na subtileza ela une,
Almas de sentimento
Full Moon Madness, parto...

Rio Tejo

Espreguiçar no tempo restante,
Vastas águas fogem na aragem,
Escorregar o fumo periclitante,
Deambular os sinos encostados à margem...

Vontade de ficar suspenso,
Permanecer nas ondulações desajeitado,
Preto vestido, espírito tenso...
Resistir ao perfume amontoado...

De pé em pé sumir na galé,
Na espera gritante sinto as águas,
Vestes não se querem separar sem fé,
Os lábios escapam-se nas mágoas...

Ostentar as ossadas a uivar,
Gritam os patamares,
A noite aproxima-se a exaltar
Aromas que sobem nos calcanhares...

Vinte e três,
Dois mais três, cinco versos serão,
A lua sobe, sobe,
Cheia, a perfumar as almas...

Subterrâneos

Madeira a resplandecer no cheiro,
Olhares pisgam na levitação,
Ornamentos de letras a voar no som,
Tempo que foge para o Atlântico...

Estranhos moldes que encaixam,
Em artifícios de lava,
Queimam no tempo infinito,
Busca de entrar na terra, ir...

Afunilar para dentro de caixas,
Esventrar o peito,
Percorrer na escuridão,
Na sensualidade deleitada...

Poeira de fumo, de volta,
Sufocos de misturas, fixos,
Alpendre de duas mulheres,
Olhos no furacão, hipnotizado...

Rebolar no cigarro que sai,
Fumado de esperança que cresce,
A sede de sulcar os lábios,
A timidez de recomeçar....

Wednesday, March 01, 2006

Praça do Chile

Singela chuva que caía nas águas mil,
Brotava dos céus, dos túmulos,
Cada flor espalhava sua cor,
O rio banhava minha vista...

Toque de ouvir a melodia, soou...
Na igreja o som espalhou,
A voz doce entrou,
Logo me cativou...

Praça do Chile, força da natureza,
À espera meus ossos ficaram,
Sentados no banco, cheirar, pingaram,
Escorria a chuva, embriagada de leveza...

Saco vermelho de paixão a olhar,
Para fora dos subterrâneos,
Avistei o amor,
Enrolei o peito...

Pequena feiticeira,
Olhos de camaleão,
Café da saudade,da esquina,
Palavras de néctares trocadas, começou...

Penumbra

Penhascos de sentimentos
Torcidos no alvorecer,
Derrocada dos fragmentos
A acompanhar o escurecer...

Demónio de olhar fúnebre,
A alma nunca morre,
Insaciável penumbra,
Aperto que corre...

Pirilampo eterno
de força, de querer, de humildade,
Construir a felicidade
No espírito fraterno...

Ondulação

As ruas encontram-se desertas,
Poeira de sol chovem nas artérias,
Cascatas de pés ondulam
Sobre cemitérios desfeitos, feitos...

Arcos de tempestades,
Em dois corpos unidos,
A transparência olvidada
No orgulho da alma...

Passos no sepulcro
Sem poder sair,
Estendido manto
Em vielas sem fim...