Tuesday, July 28, 2009

Notas de Galhos

Existe um corredor nas entranhas da loucura, próximo do patamar da eclosão, onde cada Ser mergulha suas vestes na pele retorcida. Até se ouve o despir das sensações no recanto do arrepio com a viagem nublada como plano de fundo. A entoação perfilada na mão dos desconhecidos pode provocar a fuga dos pincéis para o resguardo labiríntico da tela. O estado invisível é transparente à nota, sucumbe e dá ao esboço o monumento da versatilidade. Por isso cada momento das pétalas cabe aos galhos o destilar do néctar.
Abraçai sempre as vossas essências...

Galeria de Manoel Soares de A. Neto - Pássaro nos Galhos

Saturday, July 25, 2009

Mergulho no Brilho

Folhas orvalhadas no dorso da colina
Regam a pele, regam o céu…
Nos pingos com sabor a remoinho
O carinho da corrente ondula
Junto da arqueada ponte

Descai o mergulho das mãos
No assento dos lábios.
Veneno cava sozinho
O absorver das silhuetas
Impregnadas

A Muralha sente o fluxo
Da ampulheta.
Devorar a Alma
Devorar a essência
Devorar o horizonte do mar
No brilho intenso do Tear das luzes

*Dedicado ao Funicular dos Guindais, Porto

Monday, July 20, 2009

Sina

O fumo enlaçado no mistério da fusão do mar com o sentido embriagante da carroça das ilusões, aquela que viaja no rodopio de montes na incessante labareda de saborear o momento sublime das sinas. Quando o destino perde o trilho da mão, vira o mundo para a fonte envenenada em que o Amor contagia a lucidez impura. Todas as masmorras têm o seu lugar, no ângulo latente da harmonia e a salvaguardar a definição mais obediente do palpitar transparente; este som rasga a Alma mesmo sem saber o toque da visão. Os condimentos da escravatura não deveriam ser plantadas em Seres que desenham as silhuetas com a sensualidade dos pincéis de vento, assim acontece com Silêncio.

Baseado na leitura da Obra de Didier Comés, Silêncio – 1- A Iniciação e 2- A Vingança.

Foto da capa do livro, A Iniciação de Didier Comés, tirada da net

Tuesday, July 14, 2009

Cego

O Cego na sua “opacidade” cria imagens da harmónica, nota recombinada com o fulgor das chamas que passam do incolor para cores perfurantes ao olhar. Existe na cegueira a formação moldada de fulminantes paisagens, quedas de água gemendo o sopro do dedilhar a tela na lâmina de um acolhedor madrugar, incessante visões do apocalíptico perfumar da essência. A abstracção dos sentidos rola no interior da incógnita fragrância, suspenso na fronteira de captar o invisível dentro do oculto.
A solidão catapulta alucinações distribuídas em mantos aleatórios, pintadas pela escuridão enturvada do fresco cálice. A mão segura firmemente o horizonte, e todo o Ser mergulha num ápice na construção do caos; imagem flutuante do Cego, mágico pernoitar da eternidade no amadurecido néctar da captação insaciável. Em tudo isto todos os Cegos fazem seu rendilhado esboço.

Cego não vê; Cego semeia, rega, colhe a Alma…

Bonsai Por Walter Paul

Saturday, July 11, 2009

Pó Virgem

O virgem pó encontra-se espalhado pelas cortinas do tempo, aberto aos dedos que fazem ranhuras com sabor a esboços. Da bancada desta dança o corpo desfaz-se num banquete esculpido com o ardor, melodias de portas a ranger, estrado a escoar os murmúrios da essência. Mais perto do inalcançável o cometa deixa rastos de fogo, salpicos de pós, grãos da simplicidade aberta ao rascunho do coração, pureza da qual a mordedura de sorrisos canta o virgem pó.

Galeria de Sandro Andretta

Tuesday, July 07, 2009

Tristeza da Lua

A mudança da imagem estagnada olha o ponto crítico sentado na escada das sensações. Cumprimenta-se a viagem com as pernas a retroceder, apesar da distância dos espelhos devorar o mistério. Cada abertura nublada pinta o reflexo; cada acto de respirar minimiza o esquecimento; ou, se a ousadia o permitir, a levitação chega ao ponto do não retorno. O chilrear perpétuo alcança os contornos iluminados ao mesmo tempo, naquela fracção pingada do orvalho, a sossegada sombra pendura-se no horizonte fugidio surpreendendo a torre da memória.
O palco da tristeza está apresentado. Agora a Lua acolherá a sobrevivência do Ser na sua imaculada vontade de absorver os pigmentos, o propagar dos recônditos fumos.

Galeria de Paul il Ramingo

Thursday, July 02, 2009

Respiração Desfolhada

Sopro da brisa dentro do fogo, assim é a respiração; adopção permanente da esperança da Alma em absorver o cálice dos remoinhos saltitantes. Cada envolvimento existe a carência, mas nesse entrelaçar a partilha favorece a convivência insana. Está lá na perseverança da ausência delimitada, organismo intermitente a consumir um compasso encadeado pelas cordas desfolhadas numa plateia ávida do invisível para acarinhar as cortinas, a embalsamada viagem.

Galeria de Prairiekittin - Albuns